Saúde

OMS recomenda que próximas vacinas de Covid sejam monovalentes apenas com linhagem XBB da Ômicron

Grupo consultivo defende que versão original do vírus não circula mais em humanos, e que envolver mais de uma cepa na composição pode reduzir a resposta imune

Futuras vacinas para Covid-19 devem ser monovalentes para linhagem XBB da Ômicron, recomenda OMS. - Fred TANNEAU/AFP

O Grupo Consultivo Técnico da Organização Mundial da Saúde (OMS) para Composição de Vacinas da Covid-19 (TAG-CO-VAC) emitiu uma declaração nesta quinta-feira em que aconselha que os próximos imunizantes para a doença utilizem apenas uma versão do coronavírus em sua composição, e que ela seja de linhagens mais recentes da Ômicron, como a XBB.1 e suas derivadas – que preodominam hoje.

Grupo consultivo defende que versão original do vírus não circula mais em humanos, e que envolver mais de uma cepa na composição pode reduzir a resposta imune globalmente.

O grupo se reuniu na última semana, quando analisou as evidências disponíveis sobre a evolução genética do vírus, o potencial das vacinas atuais, o escape imunológico das variantes mais recentes e outras informações sobre a proteção contra o Sars-CoV-2 (vírus da Covid-19).

“A fim de melhorar a proteção, em particular contra a doença sintomática, novas formulações de vacinas da Covid-19 devem ter como objetivo induzir respostas de anticorpos que neutralizem as linhagens descendentes de XBB. Uma abordagem recomendada pelo TAG-CO-VAC é o uso de uma linhagem descendente XBB.1 monovalente, como a XBB.1.5, como o antígeno (proteína que induz a resposta imune) da vacina”, diz a declaração.

As doses da campanha atual no Brasil e em diversos países são as de segunda geração chamadas de bivalente. Elas recebem esse nome por envolverem duas cepas do coronavírus: a original, descoberta em 2019, e a Ômicron.

O geneticista Salmo Raskin, diretor do laboratório Genetika, em Curitiba, afirma que já era esperado que os imunizantes voltassem a ser monovalentes (para apenas uma cepa) somente com a Ômicron, já que a versão original do coronavírus não circula há anos.

— Há uma tendência de no futuro termos uma vacina monovalente só com a Ômicron, sem a cepa original, porque não existe mais a necessidade de manter a primeira variante. Existia uma preocupação de surgir uma nova variante a partir da original, mas já temos um ano e meio de Ômicron e ela continuou prevalente — explica.

Segundo o TAG-CO-VAC, a orientação de excluir o vírus original das vacinas ocorre justamente por ele não circular mais em humanos e pelo antígeno dele utilizado no imunizante não inudzir anticorpos significativos contra as cepas atuais. Além disso, o grupo aponta que “a inclusão do vírus original em vacinas bi ou multivalentes reduz a concentração do(s) novo(s) antígeno(s)-alvo em comparação com as vacinas monovalentes, o que pode diminuir a magnitude da resposta imune”.

Além disso, a versão da Ômicron nas doses bivalentes atuais é referente às linhagens BA.1, BA.4 e BA.5, que também não circulam mais desde o ano passado. E as novas linhagens da variante Ômicron têm conseguido escapar da resposta imune gerada pelas anteriores, por isso a indicação da OMS de que as próximas vacinas sejam focadas em versões mais recentes, como a XBB.

“As linhagens descendentes de XBB, incluindo XBB.1.5 e XBB.1.16, são altamente imunes evasivas, com XBB.1.5 sendo uma das variantes do SARS-CoV-2 com a maior magnitude de escape imunológico de anticorpos neutralizantes até o momento”, destaca o comunicado TAG-CO-VAC.

O grupo afirma que tanto a XBB.1.5, que prevaleceu desde o fim do ano passado, como a XBB.1.16, também conhecida como Arcturus e que cresce no mundo hoje, podem ser boas escolhas “dadas as pequenas diferenças genéticas e antigênicas” entre elas.

“Os antígenos Spike de ambas as linhagens são geneticamente e antigenicamente muito próximos, com apenas duas diferenças de aminoácidos entre XBB.1.5 e XBB.1.16 (E180V e T478R). Outras formulações e/ou plataformas que alcançam respostas robustas de anticorpos neutralizantes contra linhagens descendentes de XBB podem ser consideradas”, diz.

Os especialistas pontuam ainda que “os dados pré-clínicos compartilhados confidencialmente com o TAG-CO-VAC pelos fabricantes de vacinas mostram que a vacinação com candidatas contendo linhagem descendente XBB.1 (incluindo XBB.1.5) provoca respostas de anticorpos neutralizantes mais altas às variantes atualmente em circulação, em comparação com respostas induzidas por vacinas atualmente aprovadas”, mostrando que já existem estudos em andamento com potenciais novos imunizantes.

Ainda assim, a OMS reforça que as análises também mostraram que as doses atuais, tanto da monovolante original, como das bivalentes, embora tenham eficácia reduzida para doença sintomática, continuam a oferecer uma alta proteção contra casos graves e mortes pela Covid-19.

“As vacinas atuais contra a Covid-19 continuam a ser altamente protetoras contra doenças graves e morte (...) (Por isso) a OMS incentiva fortemente o uso de vacinas da Covid-19 autorizadas disponíveis, que incluem o vírus original”, diz comunicado da organização.

Raskin destaca que é importante manter o esquema atual em dia até porque, pela alta eficácia e a melhora do cenário epidemiológico, não há uma preocupação tão grande em acelerar o desenvolvimento de novas vacinas. Logo, novas gerações podem demorar para sair do papel.

— Enquanto não surgir nenhuma outra variante de preocupação diferente da Ômicron, não existe uma pressão tão grande para se desenvolver uma outra vacina. A grande questão hoje é conseguir que um maior número de pessoas tome a vacina atual, isso é mais urgente no momento — diz o geneticista.