INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

"IA não vai superar o ser humano'" diz Sam Altman, CEO da OpenAI, dona do ChatGPT

Especialista afirmou que empregos vão desaparecer, mas que isso "acontece em qualquer revolução tecnológica". Executivo participou de evento na tarde desta quinta-feira no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro

Sam Altman, CEO da OpenAi, criadora do ChatGPT - Chona Kasinger/Bloomberg

O avanço da inteligência artificial é mais um capítulo da revolução tecnológica em curso nas últimas décadas. E, na esteira dessas melhorias, empregos vão desaparecer. Mas isso faz parte de qualquer revolução tecnológica. No fim do dia, a inteligência artificial não irá superar a capacidade do ser humano. Essa foi a visão trazida por Sam Altman, CEO da OpenAI.

O executivo participou nesta quinta-feira de uma conversa sobre ‘o futuro da inteligência artificial e o Brasil’ realizado pela Fundação Lemann no auditório do Museu do Amanhã, no Rio.

Participaram do debate Nina da Hora, cientista da computação, pesquisadora e ativista negra; Felipe Such, programador e membro do corpo técnico da OpenAI; e Deniz Mizne, diretor-executivo da Fundação Lemann, que mediou a conversa.

Questionado por Nina da Hora sobre o potencial da IA na substituição de empregos, Altman minimizou os impactos ao pontuar que haverá mudanças na forma como os trabalhos são desempenhados hoje:

— Empregos irão desaparecer, mas isso acontece com qualquer revolução tecnológica — disse ele, que focou nos ganhos trazidos pelas novas tecnologias: — Essas novas ferramentas podem aumentar 4 vezes mais a produtividade de um artista, mas não são boas para fazer o trabalho total.

O especialista da OpenAI enfatizou que os sistemas de large language models (LLM, na sigla em inglês), como o ChatGPT, têm sido bons em realizar tarefas e não trabalhos completos. Nesse sentido, a inteligência artificial traz ganhos de produtividade, mas não é capaz de superar certas aptidões do ser humano:

— Ainda vamos ter seres humanos controlando o mundo (...) A IA nunca vai superar o ser humano. As pessoas estão interessadas no que os seres humanos podem fazer, e se elas podem ser melhores com a IA. Acho que (o futuro) vai ser algo como os homens focados nas relações humanas, e a IA realizando tarefas com as quais não nos preocupamos muito — revelou Saltman.

Felipe Such, também da OpenAI, enfatizou que a IA pode ser "capaz de realizar 80% de um determinado trabalho", mas não é boa em entender o que se deve fazer:

— Compreender a necessidade humana vai continuar sendo muito difícil e uma tarefa dos próprios humanos.

Diante da avaliação de que a IA serve para realização de tarefas, os especialistas da OpenAI apontaram que modelos como o ChatGPT poderão trazer benefícios para o setor educacional ao funcionarem como uma espécie de tutor virtual:

— Com a IA, os estudantes poderão ter um tutor especializado em qualquer assunto, e que te conhece bem ao longo de toda a vida. Isso vai ser bom para a educação, e vai permitir com que os professores possam dar um apoio, levando a resultados melhores. Claro que precisaremos ter cuidado, mas considero muito promissor — disse Saltman.

IA traz série de riscos
Na visão do CEO da OpenAI, evolução da inteligência artificial faz parte do progresso do ser humano, portanto, não faz sentido freá-la - como muitos pesquisadores vinham apontando a necessidade de uma pausa, inclusive em carta aberta assinada por mais de mil especialistas do setor. Mas Saltman enfatizou que o desenvolvimento desses sistemas traz uma série de riscos e a velocidade com que a sociedade se adapta à tecnologia é desafiadora:

— São sistemas que influenciam o mundo e precisamos de estrutura internacional pra lidar com isso. Temos que focar em mitigar os prejuízos que podem acontecer e garantir que não cometamos grandes erros que possam impactar o mundo todo. Esse é um tema bastante sensível.

Nina da Hora, ativista e pesquisadora, levantou preocupações acerca do afastamento da OpenAI do movimento de ciência aberta (Open Science), que visa a tornar a pesquisa e os dados científicos acessíveis a todos. Sem essa transparência sobre os algoritmos, pesquisadores não conseguem, por exemplo, apontar vieses dos sistemas, explicou Nina.

— A gente vai se restringir de publicar algumas coisas, mas vamos continuar falando claramente sobre o que estamos fazendo e tentar corrigir falhas — respondeu Saltman.

Chave da cidade
Também esteve presente no evento o prefeito do Rio, Eduardo Paes, que concedeu a chave da cidade à Saltman durante a abertura do painel:

— A IA vai impactar a vida de todos nós de maneiras muito diferentes, e o ambiente das cidades é o mais adequado para esse desenvolvimento e para esses desenvolvedores. Ontem conversei com o Sam e disse que quero que a cidade do Rio seja o lugar para desenvolvimento da IA. Aqui temos o ambiente perfeito para que isso aconteça — disse Paes.