ECONOMIA

Fernando Haddad: "Não faz sentido fixar meta de inflação ano a ano"

O Conselho Monetário Nacional (CMN) se reúne no próximo mês para definir as metas de inflação que o Banco Central deve perseguir na definição dos juros

Fernando Haddad, ministro da Fazenda - José Cruz/Agência Brasil

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reiterou que o governo pretende mudar o sistema de fixação de meta de inflação na próxima reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), em junho.

Tradicionalmente, o colegiado define a meta para a inflação de três anos-calendário à frente, um sistema que ajuda reduzir incertezas e melhorar a capacidade de planejamento do governo e dos agentes econômicos.

Para Haddad não faz sentido discutir no CMN uma meta ano a ano, mas uma meta contínua.

- Não faz sentido ficar discutindo no CMN meta de inflação ano a ano, para 2024, 2025 e 2026. Você analisa a economia do país, define um objetivo e não fixa meta para o ano calendário, mas o que alguns chamam de meta contínua. Ou seja, se são 3% , persegue os 3% - afirmou o ministro em entrevista ao programa do empresário Abílio Diniz, na CNN.

A meta de inflação orienta o Banco Central na hora de definir a taxa de juros básica da economia, a Selic.

- Eu penso que há esse aperfeiçoamento para ser feito e talvez a oportunidade seja agora - disse o ministro.

Indagado sobre as críticas doo governo à política de juros do BC, Haddad disse acreditar que a discussão deve ser mais técnica do que política. Lembrou que a taxa de 13,75% foi herdada do governo anterior devido a desarranjos na economia e no orçamento com objetivos eleitoreiros, como a desoneração dos combustíveis.

 

Ele admitiu que o presidente Roberto Campos Neto atuou de forma correta ao elevar a taxa de juros em 2022, mas que, diante das medidas que o atual governo vem tomando está na hora de a "política monetária reforçar a política fiscal".

O ministro minimizou atos do presidente Luiz Inácio Lula da Sila para desfazer ações do governo passado considerada exitosas, como o marco legal do saneamento básico e a e privatização da Eletobras. Haddad mencionou que o país vive uma democracia e sendo assim, o Congresso derrubou trechos dos decretos de Lula que alteravam a lei do saneamento.

Disse que Lula ficou "escandalizado", com a lei que autorizou a privatização da Eletrobras, alegando que até mesmo que quem defendia a venda da empresa considerou as regras controversas. Caberá ao Judiciário julgar a legalidade do processo, disse o ministro.

Haddad considerou natural as divergências dentro do governo e afirmou que o ministro da Fazenda deve entender que não vai ganhar todas. Mas tem que desenhar um plano de voo para ser apresentado ao presidente e ser seguido.

Ele defendeu o arcabouço fiscal e assegurou que governo vai zerar o déficit em 2024, cortando parte do gasto tributário, que segundo ele, são "favorres a algumas empresas":

- São 6% do PIB (Produto Interno Bruto) de favores que o Estado faz a algumas empresas - mencionou Haddad, acrescentando que o objetivo é cortar 1,5% do PIB em gastos tributários.

- Mesmo crescendo um pouco a despesa para acomodar o salário mínimo, a correção da tabela do Imposto de Renda, vamos conseguir o resultado primário pretendido - disse o ministro, lembrando que a regra proposta prevê uma margem de tolerância para as metas de resultado primario.