Suposto dono de megaiate abandonado no Caribe foi condecorado por Bolsonaro
Andrey Guryev é fundador da indústria de fertilizantes PhosAgro, tem negócios com o Brasil, fortuna de US$ 10,1 bilhões; oligarca recebeu a medalha da Ordem do Rio Branco
Apontado como dono do megaiate Alfa Nero, o oligarca russo Andrey Grigoryevich Guryev tem negócios com o Brasil. A empresa de sua família, a PhosAgro, vende fertilizantes a empresários brasileiros. Durante visita oficial de Jair Bolsonaro à Rússia, em fevereiro do ano passado, o filho do magnata, Andrey Andreevich Guryev, foi condecorado pelo ex-presidente.
Andreevich, de 41 anos, é conhecido como Guryev Júnior. O magnata presidia o Conselho Empresarial Rússia-Brasil na ocasião da visita de Bolsonaro a Moscou, nas vésperas do início da invasão das tropas russas à Ucrânia. O próprio ex-presidente colocou a medalha da Ordem do Rio Branco no pescoço de Guryev Jr.
"Obrigado, senhor presidente, pela honra e pela alta consideração pela minha contribuição para o crescimento das relações comerciais russo-brasileiras. Estou muito feliz por poder contar com a expertise da PhosAgro e estreitar a parceria com empresas brasileiras para aproximar nossos países", afirmou Guryev Jr, conforme consta na notícia da cerimônia que foi publicada no site da PhosAgro.
A família Guryev tem fortuna de US$ 10,1 bilhões (cerca de R$ 49,5 bilhões), de acordo com o Bloomberg Billionaires Index. Este patrimônio vem, sobretudo, da venda de fertilizantes. E a relevância dessas transações comerciais para a economia da Rússia fez com que os Guryev recebessem sanções após o início da guerra.
Guryev Jr e seu pai, Andrey Grigoryevich Guryev, de 63 anos, foram sancionados pelos Estados Unidos, Austrália, Canadá, União Europeia, Suíça e Reino Unido.
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De acordo com a PhosAgro, a empresa entregou 1,6 milhão de toneladas de produtos aos agricultores brasileiros em 2021, um terço a mais que no ano anterior. A empresa tem escritório em São Paulo desde 2015 e seus fertilizantes "respondem por cerca de 14% das exportações totais da Rússia para o Brasil", segundo dados da própria companhia.
Megaiate
No documento que estabelece sanções à família Guryev, o Departamento do Tesouro dos EUA destaca duas propriedades da família oligarca. Uma delas é a masnão Witanhurst, a segunda maior de Londres, atrás apenas do Palácio de Buckingham.
A outra propriedade que seria dos Guryev listada é o megaiate Alfa Nero, conforme relatório do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros. Os advogados da família em Londres reafirmaram que a embarcação não é dos Guryev.
O órgão americano sustenta que a superluxuosa embarcação com bandeira das Ilhas Cayman foi comprada pela família Guryev por US$ 120 milhões (cerca de R$ 595 milhões) em 2014. O Alfa Nero é um dos bens bloqueados pelas sanções.
"A Alfa Nero supostamente desligou seu hardware de rastreamento de localização para evitar apreensão", acrescenta o Departamento do Tesouro dos EUA, no documento de agosto do ano passado.
Mas após o "apagão", o Alfa Nero foi localizado atracado em Antígua e Barbuda, no Caribe. Desde então a embarcação está abandonada e gerando custos de manutenção às autoridades locais.
O iate de luxo tem 81 metros de comprimento, capacidade de acomodar 12 pessoas, spa, jacuzzi e uma piscina infinita que se transforma em heliporto.
Atendendo a um pedido dos Estados Unidos, as autoridades de Antígua revistaram a embarcação no ano passado, operação que foi observada pelo FBI.
Navio fantasma
Antigua, que apreendeu a embarcação formalmente em abril e içou uma bandeira antiguana, agora, quer se livrar do que considera um navio abandonado. Por medida de segurança, colocou dois guardas de segurança no cais.
As autoridades locais afirmam que o Alfa Nero tornou-se um perigo flutuante. E caro. Cinco tripulantes ainda vivem na embarcação e querem receber o pagamento atrasado. O diesel para manter o gerador funcionando custa uma pequena fortuna. As contas estão se acumulando desde que Antigua assumiu o controle do megaiate, com as despesas equivalentes a R$ 555 mil por mês sendo custeada pela marinha local.
"Relatórios do Embaixador de Antígua e Barbuda em Washington, EUA, dizem que o Tesouro dos EUA e o Departamento de Estado dos EUA estão colaborando para permitir que um novo proprietário tome posse e tenha permissão para navegar livremente nos EUA, pelos oceanos e outros lugares", indica Antígua e Barbuda, em nota ao Loop Caribbean.