Rússia denuncia incursão de sabotadores horas depois de bombardeio na Ucrânia
Essa operação ilustra as aparentes dificuldades de Moscou para garantir a segurança de sua fronteira nas regiões limítrofes com a Ucrânia
A Rússia admitiu, nesta segunda-feira (22), que combate um grupo de sabotadores procedente da Ucrânia na região russa de Belgorod, onde autoridades estabeleceram um "regime antiterrorista" para proteger os civis, que começaram a ser retirados daquela região.
Autoridades russas reportaram que "um grupo de sabotagem e reconhecimento" procedente da Ucrânia entrou no distrito de Graivoron, região de Belgorod.
Esta operação ilustra a aparente dificuldade de Moscou de garantir a segurança em sua fronteira com a Ucrânia, onde foi registrado um número crescente de ataques nas últimas semanas. Como resposta, o serviço de segurança (FSB) estabeleceu um "regime legal antiterrorista" na região, que outorga poderes às forças de ordem para reforçar os controles de identidade, dos veículos e das comunicações, e facilita as "intervenções antiterroristas".
"A maior parte da população deixou o território afetado e estamos ajudando com nossos meios de transporte os que não têm", indicou no aplicativo Telegram o governador de Belgorod, Viacheslav Gladkov. "Espero que nossos militares cumpram em breve sua missão e eliminem o inimigo", disse Gladkov, que relatou que a aldeia de Glotovo e as cidades de Graivoron e Zamostie foram atacadas.
A incursão ocorre depois de a Rússia ter reivindicado, no fim de semana, a tomada de Bakhmut, cidade no leste da Ucrânia que foi cenário da batalha mais feroz e sangrenta desde que o conflito começou, em fevereiro de 2022.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, desmentiu que suas forças tenham perdido Bakhmut e afirmou que seu Exército ainda controla uma pequena faixa e que segue pressionando as tropas russas ao norte e ao sul da cidade.
"Já não há para onde voltar, mas quero voltar para a minha casa, embora só restem ruínas", disse, entre lágrimas, a professora aposentada Vera Biriukova, 74, mostrando fotos de seu prédio incendiado em Bakhmut , onde ela dormiu por meses no porão antes de fugir para Kiev.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse aos jornalistas que o presidente Vladimir Putin foi informado da incursão. Ele também reportou que essa operação é uma tentativa da Ucrânia de "desviar a atenção", após a perda do controle de Bakhmut.
A presidência ucraniana, no entanto, assegurou que "não tem nada a ver" com a incursão, mas que acompanha a situação com "interesse".
'Ditadura do Kremlin'
A autoria da incursão foi reivindicada no Telegram por uma conta pertencente à "Legião Liberdade para a Rússia", um grupo de russos que combate ao lado da Ucrânia e que reivindicou operações anteriores na mesma região.
"Chegou o momento de pôr fim à ditadura do Kremlin", afirmou, em um vídeo divulgado no canal, um homem que, em dezembro, se apresentou à AFP como "César", porta-voz do grupo. Esse homem foi definido pelos meios de comunicação como um ex-neonazista de direita, que em 2014 passou para o lado da Ucrânia.
Segundo o canal no Telegram, o grupo "libertou totalmente" uma vila da região de Belgorod e atacou um segundo local.
Autoridades ucranianas, por sua vez, afirmaram que repeliram - ao menos parcialmente - um ataque aéreo russo sem precedentes lançado durante a noite com mísseis e drones contra a cidade de Dnipro, no centro-oeste do país.
Segundo as autoridades regionais, sete pessoas ficaram feridas. O prefeito de Dnipro, Boris Filatov, disse que "nunca havia tido um bombardeio (contra a cidade) dessa intensidade", desde o início da ofensiva russa.
Corte de energia na central de Zaporizhzhia
Segundo autoridades ucranianas, o bombardeio russo também provocou um corte temporário de energia na usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa, que é ocupada pelos russos desde o início do conflito.
Essa central sofreu vários bombardeios e essa é a sétima vez que fica sem acesso à rede elétrica.
A usina está fechada atualmente e não está produzindo eletricidade, mas a edificação necessita de energia para atender à sua própria demanda, incluindo a refrigeração de seus seis reatores.
Nas últimas semanas, enquanto é preparada uma grande contraofensiva ucraniana, o território russo foi alvo de um número crescente de sabotagens e ataques, que Moscou atribui a Kiev e que a Ucrânia nega.
No campo diplomático, Zelensky participou durante o fim de semana da cúpula do G7 no Japão, onde os países do grupo das sete economias mais industrializadas do planeta fizeram novas promessas de entrega de material militar a Kiev.