Fim de Feira lança álbum "Forró da Liberdade" como resistência da cultura popular; ouça
Após 12 anos de hiato, a banda apresenta o álbum "Forró da Liberdade", já disponível nas plataformas digitais
Na contramão da crescente e avassaladora invasão de gêneros que não fazem parte da tradição junina da nossa região, sobretudo nos grandes eventos públicos, a banda recifense Fim de Feira escolheu lançar como trincheira um novo disco de inéditas que reverencia as raízes da música nordestina às vésperas do São João. Após 12 anos de hiato, a banda apresenta o álbum “Forró da Liberdade”, já disponível nas plataformas digitais.
“A gente é do tempo em que os artistas lançavam disco no período junino. A indústria mudou e a música mudou. E esses discos começaram a rarear cada vez mais. Lançar um disco em um momento como esse não deixa de ser resistência e esse disco fala sobre isso”, comenta Bruno Lins, vocalista e letrista da banda.
Com 12 faixas que passeiam pelo genuíno forró e os diversos ritmos do Nordeste, o álbum conta com participações de grandes nomes da cultura popular como Assisão, Biliu de Campina, Mestre Bule Bule e Banda de Pífanos Zé do Estado, além das jovens cantoras caruaruenses Isabela Moraes e Riáh.
Uma pandemia no caminho
O álbum foi aprovado pelo Funcultura da Música em 2019 e devido às restrições da pandemia, precisou ter as gravações adiadas. “A primeira ideia que ficou suspensa foi o fato de que queríamos fazer um disco de ‘banda tocando junto’. E aí passamos quase dois anos isolados. Depois teve a questão das participações: quase todos estavam no grupo de risco, por terem mais de 60, 70 anos. No caso de Assisão, 80”, explica Bruno Lins.
Por ter sido pensado a partir de encontros e com gravações itinerantes, foi preciso esperar para conseguir gravar e finalmente ressignificar o conceito de “liberdade”. “A capa do disco simboliza isso, uma revoada saindo da gaiola. Estávamos vivos, com saúde, inclusive os mais velhos. Mas tudo isso deixou marcas e hoje a gente canta também por quem não teve a mesma sorte. Nosso Forró da Liberdade é um agradecimento à vida, por voltarmos a tocar juntos, para ver a turma dançando com a liberdade de ser feliz, e a liberdade de espalhar verdade pelo mundo”, comemora Bruno.
Uma banda na estrada
A um ano de completar duas décadas, a Fim de Feira volta Às origens com um disco que celebra os encontros e que foi realizado em de forma itinerante, com músicos que já faziam parte da antiga formação da banda: Lucivan Max (percussões), Antônio Muniz (sanfona), Thiago Rad (guitarras e violas), Luccas Maia (baixo), Márcio Silva (bateria), além do próprio Bruno Lins (vocais) e de músicos convidados, como Alexandre Rodrigues (pífanos e clarinete) e Chico Botelho (cavaco), o álbum começou efetivamente a ser gravado em 2022 com pré-produção na casa do guitarrista Thiago Rad, gravação de bases no estúdio Carranca e, depois, muitas viagens para o interior.
No interior de Pernambuco, o projeto passou por Caruaru - cidade com grande valor afetivo onde a banda gravou o primeiro disco. Lá, o grupo gravou com os mestres Walmir Silva e Zé do Estado, dois padrinhos musicais da banda. Também em Caruaru, as cantoras Riah e Isabela Moraes gravaram a canção “Formigueiro” além de todos os vocais do disco. Na sequência, a Fim de Feira voltou a pegar a estrada para gravar com o mestre Assisão, em Serra Talhada. Já o mestre Bule-Bule, por conta de sua saúde delicada, gravou em sua própria casa, em Camaçari, no recôncavo baiano, captado por uma equipe enviada de Salvador exclusivamente para essa finalidade.
Diversidade de ritmos
“Esse disco tem essa multiplicidade de vários locais diferentes da gravação, que deu um caráter bem diverso e original do ponto de vista de cada lugar que a gente visitou. E ficou muito bacana esse resultado. E acabou sendo um processo não tão simples, porque se dividiu em vários locais e convidados, mas eu acho que deu um resultado final que representa muito o que a gente quer fazer, tanto como uma homenagem ao legado das coisas que a gente ouviu durante a nossa carreira e a todos esses caras que participaram da história do forró e da cultura popular de uma forma muito forte e marcante”, avaliou Bruno.
“É um disco que tem vários ritmos que derivam justamente dos trabalhos dos convidados e das coisas que a gente vem ouvindo ao longo desse tempo todo. É um disco que tem coco, rojão, maxixe, xote, baião, arrasta pé, frevo e que dá um panorama geral da diversidade da música de Pernambuco e do Nordeste e de tudo que a gente tem ouvido e trabalhado ao longo dos anos”, define o cantor. “não deixa de ser um grande desafio e um projeto de resistência de dar continuidade a essas tradições sem perder o vínculo com a contemporaneidade, com os espaços urbanos, com a juventude e com as novas plataformas digitais, mas seguindo o be-a-bá dessa matriz da música brasileira que é o forró e os ritmos derivados. Disso a gente nunca fugiu”, completa o artista.
“Forró da Liberdade”
O álbum passa a integrar o acervo de três CDs e dois DVDs lançados pela Fim de Feira: todos trabalhos autorais, que nasceram do cruzamento da música com a literatura nordestina, metade forró, metade cordel.
A produção musical leva as assinaturas de Bruno Lins e Thiago Rad, com mixagem de Luccas Maia, masterização de Júnior Evangelista, e produção executiva de Guilherme Patriota (Theia Produtores e Associados). A turnê de lançamento desse trabalho terá início no São João. “Logo depois, a gente tem um projeto já em andamento para fazer o registro audiovisual do show, aqui no Recife, lá pra julho/agosto, quando todo mundo já tiver decorado as letras”, antecipa Bruno Lins.
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Fim de Feira lança o álbum “Forró da Liberdade”
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