Investigado, presidente da CPI do MST corta áudio de deputada ao ser questionado sobre ato golpista
Parlamentar Sâmia Bonfim fez pergunta a tenente-coronel Zucco (Republicanos-RS)
Parlamentares governistas reagiram, durante sessão de abertura da CPI do MST, à notícia de que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou que a Polícia Federal retome as investigações sobre a suposta participação do deputado tenente-coronel Zucco (Republicanos-RS) em atos antidemocráticos. Zucco preside a CPI do MST e, anteriormente, já havia dito que não era alvo de nenhuma frente investigativa.
Com a palavra, Sâmia Bomfim (PSOL-SP), disse que o fato merecia ser citado. Ela ainda tinha 20 segundos de fala, quando teve o microfone cortado por Zucco.
— Para minha surpresa, o senhor está sendo investigado, mas já havia se esquivado das acusações. E agora? — questionou.
O presidente desligou o sistema de som do plenário, neste momento.
— Isto não será assunto aqui, não merece, não diz respeito à CPI — disse Zucco para protestos dos parlamentares.
Zucco nega acusações
Em nota, Zucco negou qualquer ato ilícito.
"Fiquei surpreso ao saber pela imprensa da existência da solicitação de investigação encaminhada à Polícia Federal pelo Supremo Tribunal Federal. A notícia de fato que embasa o pedido foi feita junto ao TRF-4 baseada em postagens feitas por mim em rede social nos meses de outubro e novembro de 2022. Como fui eleito deputado federal o processo seguiu para o STF conforme determina a Constituição Federal.
Documentos e vídeos de domínio público da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul demonstram que não há qualquer indício de envolvimento meu com quaisquer atos atentatórios à democracia.
Estou tranquilo em relação à investigação e certo de que a Polícia Federal verificará que nenhuma crime houve assim como já observado pela autoridade policial do Rio Grande do Sul. Informo que minha assessoria jurídica se encontra à disposição da justiça para colaborar e esclarecer quaisquer pontos que se mostrem necessários".
CPI começa com brigas
A CPI do MST teve o seu primeiro embate entre governistas e oposição com pouco menos de uma hora dos seus trabalhos, nesta terça-feira. O entrevero teve socos na mesa do plenário, dados pelo deputado Valmir Assunção (PT-BA), que não se conformou com a fala do deputado Éder Mauro (PL-PA), que associou o Movimento dos Sem Terra a "marginalidade".
Talita Petrone (PSOL-RJ) e Sâmia Bomfim também se manifestaram em repúdio à fala e citaram uma investigação envolvendo Éder Mauro por suposto crime de tortura. A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou improcedente a acusação contra o parlamentar.
— São poucos os assentados que realmente produzem alguma coisa. Queremos levantar quem está à frente desses atos criminosos, dessa marginalidade que invade terras produtivas — afirmou Éder Mauro.
Inconformado, Assunção interrompeu a fala com socos na mesa e reafirmou que não iria assistir àquelas acusações de forma passiva.
— Sou deputado, não sou marginal. Você não vai generalizar — disse.
Ao reclamar da interrupção da sua fala, Éder Mauro foi acusado de "apoiar a tortura" por Talíria e Sâmia.
— Quem está acusando é quem apoia tortura — disse Sâmia. Talíria repetiu a fala da colega quanto foi interrompida por Éder Mauro.
— Eu não admito ser interrompida por torturador — afirmou.
Durante o bate-boce, os oposicionistas também desferiram acusações. Alfredo Gaspar (União-AL) ironizou Valmir Assunção, em sua fala.
— Acho que o MST está muito bem representado pelo Gaspar, um parlamentar com atuação coerente ao movimento: investigado por esbulho, invasões e tantos crimes.
Assunção disse que "representava 50 mil assentados, era símbolo de lutas e da minorias".
Previsão de 14 intimações
A CPI do MST teve o início dos seus trabalhos nesta terça. Para esta quarta, está prevista a votação de 14 intimações para depoimentos na Câmara, que devem ser realizados ao longo das próximas semanas. Além disso, diligências em assentamentos invadidos por militantes do Movimento dos Sem Terra serão realizadas, ao longo dos próximos sete dias, em estados como São Paulo, Bahia e Mato Grosso do Sul, onde terras produtivas foram alvos da ação de ativistas em 2023.
De acordo com o presidente a CPI, o tenente-coronel Zucco (Republicanos-RS), os 14 depoimentos que serão votados nesta quarta compõem um total de 90 já protocolados, mas que serão submetidos a voto ao longo dos próximos meses. A ideia é criar um calendário que intercale nomes solicitados por governistas e oposicionistas.