Congresso instala CPI do 8 de janeiro sob insatisfação de senadores governistas
Há acordo na Câmara para que Arthur Maia seja o presidente da comissão, mas relatoria segue indefinida
O Congresso deve instalar nesta quinta-feira (25) a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos ataques golpistas do 8 de janeiro. A data para a qual foi marcada a primeira sessão acontece quase um mês depois de o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), autorizar a abertura do colegiado.
Até a noite desta quarta, os parlamentares ainda não haviam fechado acordo para indicar a relatoria da CPMI. A presidência deve ser exercida pelo deputado Arthur Maia (União-BA), aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e considerado da ala do União Brasil que não se classifica nem como base e nem como oposição.
Diante da indefinição de quem será o relator, parte dos senadores da base coloca em dúvida se a comissão vai mesmo ser instalada hoje, mas ainda não foi tomada nenhuma decisão no sentido de adiamento.
Regimentalmente, quem comanda a sessão de instalação é o parlamentar mais velho, nesse caso o senador Otto Alencar (PSD-BA), que até a noite de quarta-feira manteve a intenção de marcar a instalação para esta quinta.. Parlamentares de oposição também desejam que a instalação aconteça nesta quinta. A comissão já tem todos os seus membros indicados.
Na véspera, o governo sofreu revezes com a bancada do MDB. O Palácio do Planalto contava com a presença dos senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Eduardo Braga (MDB-AM) na linha de frente da CPI. Ambos inclusive eram cotados para serem relatores.
No entanto, os parlamentares têm reclamado da falta de estratégia de governo. Também pesou a rivalidade entre Lira e Renan. O presidente da Câmara chegou a vetar a presença do senador do MDB na relatoria. Diante disso, Renan preferiu não participar da comissão.
Da mesma forma, Braga, que é o líder do partido, também tem reclamado da falta de articulação do governo. Os dois se reuniram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quarta e, após o encontro, Braga decidiu indicar os senadores Marcelo Castro (PI) e Veneziano Vital do Rêgo (PB) para a CPI mista.
No PSD também houve queixas. O senador Omar Aziz (PSD-AM) chegou a pedir a Otto Alencar, líder do partido, para retirar seu nome da CPI mista. Apesar disso, Aziz foi convencido a ficar na comissão. Ainda assim, o senador não considera a comissão seu foco, pois irá ser relator do arcabouço fiscal e vai se debruçar mais sobre esse tema.
Integrante titular da CPI, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) disse considerar ser difícil um acordo para a relatoria em pouco tempo, mas ressaltou que ainda não há decisão para adiar.
– Ainda não foi definido (o relator). Vai mesmo ser instalada amanhã (nesta quinta-feira). O Otto quer manter. Ele é o mais velho, então ele que convoca – declarou.
O governo coleciona um histórico de idas e vindas em relação à CPI. A reação inicial de parlamentares da base, inclusive do PT, foi de apoiar uma comissão de inquérito para investigar os ataques golpistas que aconteceram no dia 8 de janeiro. Apesar disso, logo em janeiro, Lula deu entrevista à Globo News dizendo que a CPI "pode causar uma confusão tremenda". A partir da declaração, a base governista trabalhou para desmontar qualquer CPI sobre o assunto.
Quando o general Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), apareceu em imagens, divulgadas pela CNN, interagindo com os autores dos ataques, o governo se viu forçado a apoiar a abertura da CPI mista. Mesmo assim, líderes governistas, principalmente no Senado, tentaram ainda adiar a abertura da comissão e focar em outros assuntos, como o novo marco fiscal. Em outro revés, a CPI mista conseguiu na semana passada o número mínimo de indicados para poder funcionar, o que obrigou os senadores da base a destravarem suas indicações.