FINITUDE

Tina Turner: o que é morte natural, a causa do falecimento da cantora

Critério é subjetivo e envolve interpretação do legista

Tina Turner - Bertrand Guay/AFP

Ao jornal britânico DailyMail, representantes da cantora Tina Turner, que morreu nessa quarta-feira (24), aos 83 anos, confirmaram que o falecimento foi devido a causas naturais. Segundo comunicado em que divulgaram o óbito, a artista “morreu pacificamente após uma longa doença em sua casa em Kusnacht, perto de Zurique, na Suíça”.

É comum ouvir que alguém em idades mais avançadas morreu devido a “causas naturais”. Foi o caso da rainha Elizabeth II, que faleceu em setembro do ano passado aos 96 anos. Mas afinal, o que de fato caracteriza um óbito chamado de “natural”, já que a velhice, por si só, não leva à morte?

Em resumo, o termo é utilizado para uma morte que era esperada devido a doenças em pessoas mais velhas, sem que tenha ocorrido a influência de um fator externo. É o que explica a professora de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Universidade de São Paulo (USP), Maria Celeste dos Santos, no artigo “Conceito médico-forense de morte”.

Ela escreve que as causas naturais são "consequência de um processo esperado e previsível”. “Por exemplo, nos casos de envelhecimento natural, com esgotamento progressivo das funções orgânicas. Em outros casos, o óbito é um corolário de uma doença interna, aguda ou crônica, a qual pode ter acontecido e transcorrido sem intervenção ou uso de qualquer fator externo”.

Ela destaca que, numa visão mais rígida, a morte não seria considerada “natural”, já que sempre está ligada a alguma doença ou alteração na resposta do organismo. Por isso, os médicos desaconselham o uso do termo “velhice” como uma causa, já que sempre há algo associado. Porém, é habitual o uso do termo “causas naturais” em situações quando já é esperado o falecimento.

Em entrevista à CNN há alguns anos, David Fowler, presidente da Associação Nacional de Médicos Legistas dos Estados Unidos na época, explicou que o critério de fato pode ser subjetivo, já que depende da interpretação do médico legista sobre até que ponto determinado fator pode ter influenciado o óbito.

— Quando um médico legista preenche um atestado de óbito, é sua opinião médica com base em toda a sua experiência e treinamento que é isso que está acontecendo. Você é como um juiz. Você pesa as evidências e, com base na predominância das evidências, chega a uma decisão — disse.

Tina Turner, por exemplo, sofria com estresse pós-traumático, já havia passado por um derrame, descobriu um câncer de intestino em 2016, tinha hipertensão arterial e insuficiência renal, que a fez precisar de um transplante de rim.

Por outro lado, a morte não é considerada natural quando a pessoa morre por uma intervenção ativa, como devido a acidentes, uso de drogas, suicídio, homicídio e outras causas violentas, doenças agressivas, especialmente em idades mais jovens.