Pesquisa aponta que 36% dos chilenos têm visão favorável à ditadura
Em 2023 faz 50 anos do golpe de Estado de Augusto Pinochet
No ano em que o golpe de Estado que instalou a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) completa 50 anos, 36% dos chilenos têm uma visão favorável a ela, segundo dados de uma pesquisa divulgada nesta terça-feira (30).
A pesquisa "Barômetro da política CERC-Mori" revelou que 36% dos chilenos consideram que Pinochet "libertou" o Chile "do marxismo", enquanto 42% avaliam que "destruiu a democracia" e 22% não sabe ou não respondeu.
"Temos o único ditador do ocidente da história contemporânea que, 50 anos após um golpe de Estado, tem mais de 30% da população ao seu favor", disse Marta Lagos, fundadora da Mori-Chile, ao apresentar a pesquisa em uma coletiva de imprensa.
Em 11 de setembro de 1973, as forças armadas lideradas por Pinochet depuseram o governo do socialista Salvador Allende. A ditadura se estendeu por 17 anos e deixou mais de 3.200 vítimas, entre mortos e desaparecidos.
Allende se suicidou depois que o palácio do governo foi bombardeado pelo ar.
De acordo com o monitoramento da opinião ao longo do tempo, a opinião positiva em relação ao regime de Pinochet começou a crescer de maneira contínua nos últimos dez anos, depois de ter alcançado um dos seus mínimos históricos (18%) em 2013.
A partir desse ano também começou a aumentar a opinião favorável dos chilenos sobre as razões que os militares tiveram para dar um golpe de Estado. Se em 2013 16% consideravam que "sim, tinham razão", agora essa avaliação subiu para 36%.
"Em 2023, o Pinochetismo parece renascer em meio à crise econômica, política e social que o país vive", explica o relatório.
A pesquisa foi realizada entre fevereiro e março de 2023, em um contexto "de uma forte oposição" ao governo do esquerdista Gabriel Boric, que assumiu a presidência em março de 2022, em meio a um aumento da criminalidade e onde a migração ilegal, a inflação e a estagnação da economia aparecem como plano de fundo.
Os resultados da pesquisa foram divulgados após a vitória da direita ultraconservadora nas eleições do último 7 de maio, nas quais foram eleitos os membros do Conselho Constitucional que redigirá um novo projeto de Constituição para substituir a herdada da ditadura.
O ultraconservador Partido Republicano conseguiu 23 dos 51 assentos nesse conselho, o que lhe confere uma ampla margem para articular, segundo seus princípios, essa nova Carta Magna.