Rússia cobra repúdio da Otan a ataques de drones a Moscou; aliados de Kiev pedem cautela
Autoridades russas se manifestaram após explosivos atingirem área civil da capital, enquanto bloco ocidental não tem um posicionamento unificado sobre o tema
O Kremlin e autoridades do governo russo acusaram a Otan de promover uma guerra contra o país, após os mais recentes ataques contra o Moscou na terça-feira (30).
Um dia depois de drones atingirem alvos civis na capital, representantes da alta cúpula da burocracia russa miraram o Ocidente nesta quarta, principalmente os Estados Unidos e o Reino Unido, a quem atribuíram responsabilidades pelo ofensiva dentro de suas fronteiras.
Vários sinais partiram das autoridades russas. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que Moscou "teria preferido ouvir ao menos algumas palavras de condenação" sobre o ataque partindo das capitais ocidentais, ponderando que o país vai "calma e deliberadamente" pensar em como lidar com esse novo cenário.
Anatoly Antonov, embaixador russo em Washington, disse que a recusa da Casa Branca em condenar abertamente os ataques "é um encorajamento para os terroristas ucranianos", enquanto o vice-presidente do Conselho de Segurança Nacional, Dmitri Medvedev, que se notabilizou por apresentar as posições mais extremistas de Moscou desde o começo da guerra, disse que qualquer oficial britânico “pode ser considerado um alvo militar legítimo”, pelo papel do Reino Unido na guerra.
"Hoje, o Reino Unido atua como aliado da Ucrânia, fornecendo-lhe ajuda militar na forma de equipamentos e especialistas, ou seja, lidera de fato uma guerra não declarada contra a Rússia.
Sendo assim, qualquer um de seus funcionários públicos (seja militar, seja civil, que facilite a guerra) pode ser considerado um alvo militar legítimo", escreveu Medvedev em uma publicação no Twitter, em resposta a uma declaração do secretário de Relações Exteriores britânico, James Cleverly.
Cleverly se negou a comentar os ataques a drone contra alvos civis, mas declarou que a Ucrânia "tem o direito de projetar força além de suas fronteiras para minar a capacidade da Rússia de projetar força na própria Ucrânia", o que foi rebatido com veemência por Medvedev.
"As apatetadas autoridades do Reino Unido, nosso eterno inimigo, devem lembrar que dentro da estrutura da lei internacional universalmente aceita que regula a guerra moderna, incluindo as Convenções de Haia e Genebra com seus protocolos adicionais, seu estado também pode ser qualificado como estando em guerra", escreveu.
Embora autoridades ocidentais tenham se negado a condenar os ataques ao território russo, aliados da Otan pediram cautela sobre o tema, em meio a preocupações de que uma potencial escalada possa arrastá-los para uma guerra mais ampla.
A França apoia o direito da Ucrânia de se defender, mas os envios militares franceses não deve ser usados para atacar a Rússia, segundo uma autoridade francesa, acrescentando que, se a Ucrânia quiser fazer mais com suas próprias forças, não cabe à França ditar a Kiev como conduzir esta guerra.
Outro diplomata europeu disse que os aliados tendem a não discutir a questão porque ela é divisiva.
A Rússia enfrenta ataques menores em seu próprio território há meses, incluindo os desta semana, quando disse que cinco drones direcionados a Moscou foram abatidos e três interceptados por interferência eletrônica.
Regiões perto da Ucrânia foram atacadas repetidamente nas últimas semanas, com autoridades ordenando que alguns moradores da região de Belgorod deixassem suas casas.
Um ataque de drone causou um incêndio na refinaria de petróleo Afipsky, na região de Krasnodar, no sul da Rússia, disse o governador local em seu canal Telegram na quarta-feira (31).
— Tudo isso que está acontecendo agora dentro da Rússia é extremamente difícil de avaliar — disse o ministro das Relações Exteriores da Finlândia, Pekka Haavisto, em entrevista em Oslo na quarta-feira, antes de duas reuniões de seus colegas da Otan. — É um movimento de resistência dentro da Rússia tomando iniciativa? Vem de fontes externas? Nossa abordagem quando estamos dando armas à Ucrânia é defender seu próprio território, retomando alguns que foram ocupados pela Rússia e assim por diante, e esse é, obviamente, o objetivo de nosso apoio militar.
'Escolhas operacionais'
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, relutou em falar sobre o uso de armas ocidentais para atacar a Rússia.
— As escolhas operacionais sobre como usar as armas devem ser feitas pelos próprios ucranianos — disse Stoltenberg a repórteres na terça-feira. — Existem escolhas difíceis.
John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, disse à CNN na quarta-feira que, uma vez que Washington forneça sistemas aos ucranianos, eles decidem o que fazer com as armas.
— Agora, eles nos deram garantias de que não usarão nosso equipamento para atacar dentro da Rússia. Mas uma vez que vai para eles, pertence a eles — disse Kirby
Os EUA abandonaram neste mês sua relutância em permitir que aliados treinem pilotos ucranianos em caças F-16. O presidente Joe Biden disse ter recebido garantias do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, de que Kiev não usaria a aeronave para entrar em território russo.