Zelensky diz que "definitivamente não foi por nossa causa" que encontro com Lula não aconteceu
Segundo líder ucraniano, presidente do Brasil quer ser "original" com sua ideia de um clube de paz para mediar solução para Guerra da Ucrânia
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou que "definitivamente não foi por nossa causa" que a reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não ocorreu no mês passado, às margens da reunião do Grupo dos Sete (G7) em Hiroshima, no Japão, da qual ambos participaram como convidados. O mandatário ucraniano fez o comentário durante uma entrevista a sete veículos da imprensa latino-americana, entre eles a Folha de São Paulo.
De acordo com Zelensky, "Lula quer ser original" com sua ideia de criar um clube de paz para negociar a guerra da Ucrânia e não apoiar explicitamente a criação de um tribunal especial internacional que julgue crimes de agressão russos, ponderando que de antemão o petista deve responder a perguntas muito simples, como se "assassinos devem ser condenados e presos". O ucraniano diz crer que Lula condenará os russos, mas também o alfinetou:
"Ele encontrará tempo para responder a essa questão? Ele não achou tempo para se reunir comigo, mas, talvez, tenha tempo para responder a essa pergunta."
Indagado se deseja uma bilateral com Lula e sobre a razão pela qual não se encontraram em Hiroshima, Zelensky negou a versão brasileira de que ele não apareceu no horário marcado. Na época, a comitiva brasileira afirmou que a equipe ucraniana pediu para alterar três vezes a hora do encontro, antes de parar de responder às mensagens.
"Disseram que a gente não havia tentado nem se esforçado para encontrá-lo, isto não é verdade. Não é gente séria, substantiva, que está dizendo isso" disse Zelensky, antes de afirmar que "alguma coisa não deu certo no G7, não quero entrar em detalhes, mas definitivamente não foi por nossa causa que não deu certo" e que, para haver uma conversa, "é preciso que haja vontade".
O presidente ucraniano, contudo, afirmou voltou a afirmar que quer se encontrar com o par brasileiro, em meio a sua tentativa de angariar apoio na América Latina e em um Sul Global que hesita em embarcar na enxurrada de sanções ocidentais e no envio de armas aos ucranianos. A dependência econômica da Rússia e o medo de uma escalada do conflito para a economia mundial, em particular, despertam temor, assim como a percepção de que a guerra é um problema principalmente europeu.
Segundo Zelensky, Lula já foi convidado "várias vezes" para ir à Ucrânia, e houve contato entre ambas equipes durante a viagem do petista à Espanha e Portugal em abril — ocasião que, segundo o ucraniano, seria boa porque a "distância era menor e talvez ele conseguisse encontrar um tempo". O assessor especial da Presidência, Celso Amorim, esteve em Kiev há menos de um mês, depois de ir à Moscou em abril.
"É importante que a grande potência, o representante da América Latina, o Brasil, esteja envolvido e no mesmo patamar de outros países na discussão da fórmula da paz" afirmou Zelensky. "[Os brasileiros] podem ter seus próprios pontos de vista sobre qual deveria ser o caminho para a paz. Tudo bem, estamos dialogando, somos civilizados. Mas precisamos conversar."
O comentário do presidente ucraniano de que Lula "quer ser original" com sua tentativa de pôr ambos lados na mesa de negociações sem condições prévias foi feita em resposta a uma pergunta sobre a importância de criar um tribunal especial internacional para julgar crimes de agressão russa na guerra da Ucrânia. O Brasil não se opõe explicitamente à medida, mas também não declarou seu endosso.