PF encontra cofre lotado de dinheiro vivo em operação que mira reduto de Lira
De acordo com as investigações, superfaturamento de equipamentos robóticos teria gerado prejuízo ao erário de pelo menos R$ 8,1 milhões
A Polícia Federal encontrou, na manhã desta quinta-feira (1º), um cofre lotado de dinheiro vivo ao cumprir um mandado de prisão no Distrito Federal. A diligência faz parte da operação contra uma organização criminosa suspeita de fraude em licitação e lavagem de dinheiro em Alagoas e que tem entre os alvos aliados do presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP).
Entre os aliados de Lira estão envolvidos na operação da PF está Luciano Ferreira Cavalcante, que foi assessor do gabinete do presidente da Câmara e hoje está lotado na liderança do PP. Outro alvo é o empresário Edmundo Catunda, pai do vereador de Maceió João Catunda (PSD), que esteve 11 vezes no gabinete de Lira, ao longo de 2016.
De acordo com as investigações, Edmundo Catunda é um dos proprietários da Megalic, que teria intermediado a compra de equipamentos de robótica para 43 municípios alagoanos com recursos desviados do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), ligado ao Ministério da Educação (MEC). O superfaturamento dos kits teria gerado prejuízo ao erário de pelo menos R$ 8,1 milhões.
O inquérito apontou que os crimes teriam ocorrido entre 2019 e 2022, durante a realização de processos licitatórios, adesões a Atas de Registro de Preços e celebrações contratuais relacionadas ao fornecimento dos equipamentos. As contratações teriam sido ilicitamente direcionadas a uma única empresa fornecedora, através da inserção de especificações técnicas restritivas nos editais dos certames e de cerceamento à participação plena de outros licitantes.
A investigação identificou ainda que foram realizadas, pelos sócios da empresa fornecedora e por outros investigados, movimentações financeiras para pessoas físicas e jurídicas sem capacidade econômica e sem pertinência com o ramo de atividade de fornecimento de equipamentos de robótica, o que pode indicar a ocultação e dissimulação de bens, direitos e valores provenientes das atividades ilícitas.
Em fotos publicadas no perfil do Instagram de João Catunda, aparecem Arthur Lira e sua mulher, Angela Lira. Em uma das postagens, feitas em 1º de fevereiro, o vereador escreve:
“Parabéns pela reeleição histórica a presidência da Câmara dos Deputados. A votação de hoje é resultado de um excelente trabalho nesses últimos dois anos e que continuará nesse novo mandato. Para mim, é uma honra ter a frente do Congresso um parceiro, amigo e alagoano que trabalha pelo avanço do nosso país e, obviamente, do nosso estado. Sucesso presidente nesse novo mandato que se inicia. Conte comigo!”
João chegou a se candidatar a deputado federal pela mesma chapa de Lira, nas últimas eleições. Segundo reportagem publicada no portal Poder 360, seu pai esteve ao menos 101 vezes na Câmara dos Deputados, em 2016. Os dados obtidos pelo site via Lei de Acesso à Informação (LAI) mostram que só há registros do destino de apenas 35 visitas, sendo que 11 foram ao gabinete do presidente da Câmara e outras nove para outros políticos do mesmo partido.
Nesta manhã, 110 policiais federais e 13 servidores da Controladoria Regional da União em Alagoas (CGU/AL) cumprem os mandados em Alagoas, no Distrito Federal, em Pernambuco, em São Paulo e em Goiás. Todos foram expedidos pela 2ª Vara Federal da Seção Judiciária do Estado de Alagoas.
Em Pernambuco, o mandado de busca e apreensão foi cumprido em um endereço residencial na cidade de Gravatá, no Agreste. No local, um pararelho celular e um veículo Fiat Toro foram apreendidos. Todo o material será levado para a coordenação da Operação em Maceió e passará por perícia.
Além destas medidas, foi determinado o sequestro de bens móveis e imóveis dos investigados, no valor de R$ 8,1 milhões e a suspensão de processos licitatórios e contratos administrativos celebrados entre a empresa fornecedora investigada e os municípios alagoanos que receberam recursos do FNDE para aquisições de equipamentos de robótica.
Algumas dessas transações eram fracionadas em valores individuais abaixo de R$ 50 mil, com o fim aparentemente de burlar o sistema de controle do Banco Central/COAF. Em seguida às transações, eram realizados saques em espécie e entregas dos numerários aos destinatários.