BRASIL

"Tem que conversar com quem não gosta da gente", diz Lula sobre articulação no Congresso

Senado aprovou na quinta-feira, no limite do prazo, a medida provisória que organiza a estrutura ministerial do governo federal

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante cerimônia inaugural do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social - Cristiano Mariz/O Globo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira, em visita à Universidade Federal do ABC (UFABC), que a esquerda tem no máximo 136 votos na Câmara e que o governo precisará conversar com adversários se quiser aprovar matérias simples na Casa.

O Senado Federal aprovou na quinta-feira, no limite do prazo, a medida provisória que organiza a estrutura ministerial do governo federal. Ainda assim, o projeto sofreu uma desfiguração na Câmara, num sinal de insatisfação da oposição com a articulação de Lula. O Ministério do Meio Ambiente, por exemplo, foi esvaziado.

Se a medida provisória não fosse aprovada a tempo, a Esplanada de Lula com 36 ministérios voltaria a ter a mesma configuração do governo Bolsonaro, com 22 pastas.

À plateia de estudantes, Lula afirmou que as pessoas precisam entender a correlação de forças" no Congresso, e que a articulação exige esforços. Ele ouviu gritos de "fora, Lira" ao citar a dificuldade do governo na Câmara.

— A esquerda toda tem no máximo 136 votos, isso se ninguém faltar. Para votar uma coisa simples, precisamos de 257. E, para aprovar uma emenda constitucional, é maior ainda o número de deputados. É preciso que vocês saibam o esforço para governar. Ontem a gente corria o risco de não ter aprovado o sistema de organização do governo. Aí, você não precisa procurar amigos. Tem que conversar quem não gosta da gente — afirmou.

Lula participou, nesta manhã, da inauguração do prédio do laboratório da Universidade Federal do ABC Paulista, a UFABC. Em seguida, marcou presença na inauguração de uma fábrica de ônibus elétricos da Eletra, na mesma cidade.

No auditório da faculdade, ele e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) foram ovacionados pelos estudantes, que levaram cartazes contra Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, e o arcabouço fiscal. O único vaiado foi o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB). A primeira-dama, Janja da Silva, e outros ministros estiveram presentes.

Indicação de Zanin
Alheio a críticas de que estaria beneficiando um amigo, Lula formalizou na quinta-feira a indicação de seu advogado pessoal à vaga aberta com a aposentadoria do ministro Ricardo Lewandowski.

Apesar da histórica ligação com o petista, Zanin angariou amplo apoio, manifestado por magistrados da Corte até figuras do meio político, como Valdemar Costa Neto, presidente do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro.

No entanto, Lula vem sofrendo críticas de setores progressistas por nomear mais uma vez um homem branco do Sudeste para a vaga, perdendo a oportunidade de aumentar a diversidade na Corte. Hoje o Tribunal conta com duas mulheres entre os onze membros, e nenhum negro.