Prisão de ventre, sangue e fezes achatadas: como Preta Gil descobriu o câncer pelo cocô
Gastroenterologista alemã Giulia Enders explica como o formato e a cor podem sinalizar as mais variadas doenças
A cantora Preta Gil deu uma entrevista para Ana Maria Braga durante sua participação no programa Mais Você e falou sobre os últimos meses lutando contra o câncer de intestino. Segundo a artista, ela viu que tinha algo de errado com seu organismo por meio de seu cocô.
"Tinha muita prisão de ventre, fezes achatadas, sangue nas fezes e entrei no hospital com um diagnóstico de cefaleia. Fui ao banheiro e senti uma coisa escorrer nas minhas pernas, quando olhei era sangue. Comecei a me sentir mal, tive um desmaio, me levaram às pressas para o hospital, médicos pediram tomografia, ressonância e na primeira tomografia já apareceu o tumor. Tem seis centímetros", relembra a cantora.
Em janeiro deste ano, a artista publicou em suas redes sociais que estava enfrentando um câncer no intestino e que precisaria passar por sessões de quimioterapia e radioterapia. Durante o programa, a cantora afirmou que se prepara para sua última sessão.
A gastroenterologista alemã Giulia Enders, autora do livro O Discreto Charme do Intestino (Sextante), considerado um dos maiores sucessos de venda sobre o assunto, com 6 milhões de exemplares vendidos no mundo, em recente entrevista ao jornal O Globo, esclarece de forma objetiva e sem preconceitos as principais dúvidas que temos sobre as fezes e como elas podem sinalizar as mais variadas doenças.
— Saber o que o aspecto quer dizer é importantíssimo para a saúde e pode fornecer sinais de problemas no organismo. Para isso, há uma escala com sete tipos de consistência das fezes. Por exemplo, uma digestão saudável é traduzida em fezes do tipo 3 ou 4, com bom teor de água. É importante observar também se elas afundam muito rápido na água. O ideal é não irem direto para o fundo do vaso sanitário.
Quais são as cores que podem indicar problemas de saúde?
A cor também é um indicativo de que algo errado pode estar acontecendo no seu organismo. A cor ideal é o marrom.
A médica numera três tipos de tons que podem significar problemas de saúde: de marrom-claro a amarelo, marrom-claro a cinza e preto ou vermelho.
"Marrom claro a amarelo pode sinalizar que temos enzimas trabalhando com apenas 30% de sua capacidade, o que faz chegar menos pigmentos ao intestino", explica Enders.
Afetando 10% da população, o problema não é grave, mas indica que se deve procurar um especialista. Outra possível causa para fezes amareladas são as bactérias intestinais, que, quando não trabalham direito podem não produzir o tom marrom.
Outros dois tons que merecem alerta é o marrom-claro a cinza. As colorações aparecem quando a conexão entre fígado e intestino sofre alguma interferência e o pigmento sanguíneo não consegue chegar ao cocô. Essas passagens obstruídas podem significar problemas de saúde mais sérios.
As fezes vermelhas podem indicar hemorroidas ou sangue. Segundo Enders, porém, o cocô na cor preta é mais alarmante, pois pode ser sinal de doenças graves, como úlceras, infecções de vasos sanguíneos e até câncer colorretal.
Como combater a prisão de ventre?
Configura-se como prisão de ventre quando a pessoa vai ao banheiro menos de três vezes por semana, quando a quantidade de fezes é um quarto menor do comum ou quando saem em pequenas bolinhas.
A gastroenterologista afirma ainda que há dois níveis de constipação, as passageiras, que ocorrem em viagens, períodos de doença ou fases de estresse, e as “obstinadas”, que tendem a se tornar um problema duradouro.
"Quase metade das pessoas já sofreu constipações em viagens. As razões podem ser diversas, mas, na maioria das vezes, é porque o intestino tem hábitos. Quando saímos da nossa normalidade ou passamos por períodos de ansiedade e estresse, os nervos do intestino captam a situação excepcional e reduzem a atividade", explica Enders.
Mas pequenas atitudes podem ser tomadas para evitar a prisão de ventre. Aumentar o consumo das fibras, por exemplo.
"Pode-se aumentar a ingestão um dia antes da viagem. Também vale comprar fibras em forma de comprimidos ou em pó. Bastam 30 gramas do produto, diariamente", diz a autora.
A médica sugere a ingestão de ao menos dois litros de água, pois a boa hidratação facilita o trabalho da musculatura do intestino e afirma que é importante tentar manter o horário habitual de ir ao banheiro.
Por último, os laxantes que ajudam a fazer o intestino mais preguiçoso funcionar. A quantidade deve ser discutida com o médico. Mas é importante saber que o efeito não costuma ser imediato. Em geral, são necessários três dias para o órgão voltar a receber uma quantidade suficiente de material para a próxima evacuação. Ou seja, não é preciso tomar mais remédios se ficar sem ir ao banheiro por alguns dias, pois isso pode provocar problemas mais graves no intestino e nos rins.