Candidatura

Bolsonaro fragilizado não consegue barrar ímpeto do Centrão, diz Salles

Para ex-ministro do Meio Ambiente, investigações e processos contra o ex-presidente reduziram sua força política e tiraram sua capacidade de fazer frente às vontades "fisiológicas" de seus aliados

O ex-ministro do Meio Ambiente e deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) - Pablo Jacob/Agência O Globo

Um dia após desistir de sua pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo, o deputado federal Ricardo Salles (PL) disse em entrevista ao Globo que as investigações e processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reduziram sua força política e tiraram sua capacidade de fazer frente às vontades "fisiológicas" de seus aliados na política. Por isso, segundo Salles, Bolsonaro teria sido convencido a apoiar o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB).

Na segunda-feira, Salles anunciou a desistência de seu projeto eleitoral em 2024 pela falta de apoio da direção do PL. O presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, vinha defendendo um candidato de "centro-direita" para a disputa, enquanto definia Salles como "extrema-direita". As declarações foram interpretadas como um pretexto para manter a legenda na base de apoio de Nunes.

— Bolsonaro, por mais que tivesse a vontade de defender o meu nome e continuar o projeto da direita, está muito mais fragilizado e tem muito menos força política do que tinha no passado — diz Salles.

Ele nega que tenha se sentido traído pelo ex-presidente, a quem diz admirar e ser grato pela oportunidade de chefiar um ministério, mas vê o aliado com menos poder que antes:

— Não (me sinto traído). Tenho grande admiração e gratidão pelo Bolsonaro por ter sido ministro dele e gozado do apoio e amizade durante tanto tempo. O que acho, infelizmente, é que o presidente está muito fragilizado com esses processos que fizeram injustamente contra ele, e que podem culminar com a sua inelegibilidade na Justiça Eleitoral. Consequentemente, isso diminui a capacidade de se contrapor a esse ímpeto do Centrão fisiológico.

O ex-ministro do Meio Ambiente vê uma atuação conjunta do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e de Valdemar contra sua empreitada, após ser pego de surpresa por uma agenda de Bolsonaro em São Paulo na última semana com Nunes.

Nas últimas semanas, diversos episódios vinham incomodando o grupo de Salles. Além de um evento do PL Mulher com a presença de Nunes no palco, a família Bolsonaro tem operado uma aproximação com o prefeito, tanto em aparições públicos quanto em almoços e jantares.

O sinal mais claro desse alinhamento foi feito na sexta, quando Tarcísio, Nunes e Bolsonaro participaram de uma solenidade em São Paulo. Depois, o ex-presidente, o prefeito e o ex-secretário da Comunicação do governo Bolsonaro seguiram juntos para um almoço com Valdemar e empresários da região. Salles não foi convidado.

— Num momento em que tanto o Valdemar quanto o Tarcísio dizem ao Bolsonaro que preferem apoiar o Nunes, ele (Bolsonaro) fica com uma capacidade limitada de ter uma posição diferente. Tarcísio estava trabalhando, ainda que veladamente, pela candidatura do Nunes. — diz Salles.

O deputado define como "inaceitáveis" as declarações de Valdemar sobre o PL não querer um "candidato de extrema-direita" nas eleições municipais.

— Não tem essa palhaçada de extrema-direita. Isso é a forma com que a esquerda difama a direita. O presidente de um partido que cresceu graças à direita não pode adotar um discurso tão tendencioso, tão leviano contra a direita que deu a ele o maior fundo partidário, de mais de R$ 1 bilhão, maior tempo de TV e maior bancada da Câmara. Quem fez isso pelo PL e pelo Valdemar foi a direita que hoje ele está desdenhando.

Para Salles, o apoio do PL a Nunes se dá em razão das "velhas práticas de troca de espaço e de favores", ainda que sejam "escoradas no argumento da viabilidade eleitoral". Ele lamenta que um partido que abriga as principais lideranças do bolsonarismo hoje não ter uma candidatura própria na maior capital do país, e descarta deixar o partido agora para concorrer de qualquer forma em 2024.