guerra na ucrânia

Ucrânia retira moradores de áreas a salvos por destruição parcial de represa

Autoridades ucranianas anunciam que mais de 17 mil pessoas serão retiradas de 24 localidades inundadas

Militares ucranianos transportam um residente local em um barco durante uma evacuação de uma área inundada em Kherson - Aleksey Filippov/ AFP

A Ucrânia prossegue nesta quarta-feira (7) com a retirada de milhares de moradores após a destruição parcial da represa hidrelétrica de Kakhovka, que inundou várias localidades ao longo do rio Dnieper e que provocou uma intensa troca de choque entre Moscou e Kiev.

O governo dos Estados Unidos afirmou que uma explosão pode ter provocado várias mortes e que não é possível determinar de modo conclusivo o que aconteceu na represa, que fornece água resfriamento para a central nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que o ataque é "outra consequência devastadora da invasão russa à Ucrânia".

A dimensão da catástrofe "só poderá ser plenamente avaliada nos próximos dias, mas as consequências serão graves", afirmou na terça-feira (6), no Conselho de Segurança da ONU, o secretário para Assuntos Humanitários da organização, Martin Griffiths.

Ele também mencionou a impossibilidade de enviar ajuda a milhões de pessoas expostas, "o golpe para a produção agrícola e os riscos de contaminação por minas e explosivos explosivos" que podem ser arrastados pela água.

A China, que tenta atuar como mediadora na guerra, expressa preocupação com “impacto humano, econômico e para o meio ambiente”. Também pediu às partes em conflito que respeitam o direito internacional humanitário e permitem o possível para proteger os civis e as infraestruturas civis.

A Ucrânia afirmou que o ataque contra a represa, tomada pela Rússia nos primeiros dias da guerra - em fevereiro do ano passado -, foi uma tentativa de Moscou de frear a ofensiva esperada de Kiev, que segundo o governo não será enfrentada.

A Rússia acusou a Ucrânia de "sabotagem deliberada".

Moradores de Kherson, a maior cidade da região, seguiram para pontos elevados após a cheia do rio Dnieper.

"Antes eram tiros e agora temos inundação", disse Liudmila, moradora da cidade, depois de carregar uma máquina de lavar roupa em uma carroça presa a um velho automóvel soviético.

"A inundação está aqui, diante dos nossos olhos. Ninguém sabe o que pode acontecer a partir de agora", afirmou Viktor, outro morador de Kherson, à AFP.

Autoridades ucranianas anunciam que mais de 17 mil pessoas serão retiradas de 24 localidades inundadas.

"Mais de 40 mil pessoas podem estar em áreas inundadas", afirmou no Twitter o procurador-geral ucraniano, Andriy Kostin. Ele informou que mais de 25 mil moradores devem ser retirados da margem do rio ocupados pela Rússia.

A central hidrelétrica da represa também está "completamente destruída", anunciou a operadora ucraniana de hidr energia elétrica, Ukrhydroenergo.

"Bomba Ambiental"
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky
, acusou a Rússia de detonar uma "bomba ambiental de destruição em massa" e afirmou que até 80 localidades seriam inundadas.

“Este crime provoca ameaças poderosas e terá graves consequências para a vida das pessoas e o meio ambiente”, afirmou Zelensky. Ele disse ainda que a explosão aconteceu às 2H50 de terça-feira (20H50 de Brasília, segunda-feira).

A Rússia respondeu e pediu uma "condenação às ações criminosas das autoridades ucranianas, que são cada vez mais desumanas e representam uma grave ameaça para a segurança regional e global".

Em outubro do ano passado, Zelensky acusou a Rússia de instalar minas na represa e avisou que a destruição da barragem provocaria uma nova onda de refugiados na Europa.

Sem aspecto militar, a Ucrânia afirmou na segunda-feira que registrou progressos na região de Bakhmut, leste do país, ao mesmo tempo relativizou a dimensão das "ações ofensivas" em outras partes do front.

A Rússia alega que está impedindo ataques em larga escala, mas na terça-feira reconheceu que 71 soldados dormiram nos combates dos últimos dias.

Kiev afirma há meses que está preparando uma grande ofensiva para forçar uma retirada das tropas de Moscou.

Central nuclear
A destruição parcial da represa provoca o temor de consequências para a central nuclear de Zaporizhzhia, que fica a 150 km de distância, porque a usina hidrelétrica de Kakhovka garante água de resfriamento para o local.

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) destacou, no entanto, que "não há perigo imediato" e acrescentou que os especialistas estão monitorando a situação.

Assim como a represa, uma central nuclear fica em uma área ocupada pelas forças russas desde a invasão iniciada em fevereiro de 2022.

O diretor da central nuclear, Yuri Chernichuk, designado pelos ocupantes russos, afirmou que “no momento não há ameaças” para a segurança do local.

A represa de Kakhovka, construída na década de 1950, no auge da era soviética, tem valor estratégico por fornecer água ao Canal da Crimeia do Norte, que nasce no sul da Ucrânia e atravessa toda a península da Crimeia, sob controle russo desde 2014.