Desaceleração

Com IPCA abaixo do esperado em maio, economistas já veem índice de 5% em 2023

Resultado mensal surpreendeu analistas e abre espaço para queda da taxa de juros. Mercado começa a revisar projeções para o ano

Inflação dos alimentos perde força - Brenno Carvalho

Uma desaceleração maior que a esperada do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em maio, puxada pelos preços de alimentos, já leva analistas a cortarem projeções para a inflação em 2023. A expectativa agora é de que o IPCA fique em 5% no fim do ano - muito mais próximo do teto da meta, que é de 4,75%.

O cenário mais benigno para a inflação também começa a abrir espaço para o Banco Central mudar o tom dos comunicados e iniciar um ciclo de corte de juros em agosto, na visão de alguns economistas. Mas há quem fale em risco político caso o BC decida cortar juros em agosto. Veja as análises a seguir:

Corte de juros em agosto e IPCA de 5%
O Credit Suisse agora espera que o Banco Central já realize um corte de 25 pontos-base na reunião de agosto, ante expectativa de redução da Selic em setembro. A mudança se deve ao resultado mais benigno da inflação em maio e a expectativa de um alívio nos preços, sobretudo dos alimentos, nos próximos meses. Segundo economistas do banco, a safra agrícola maior que a esperada no primeiro trimestre levará a uma uma inflação de alimentos menor este ano.

"Estamos revisando nossa projeção de IPCA para 2023 de 5,5% para 5,0%. Para 2024, nossa expectativa de inflação caiu para 4,0% devido à menor inércia", disseram Solange Srour, Rafael Castilho e Francisco Lima Filho, em relatório.

Boa parte das previsões de mercado consideram que o BC reduza a Selic entre as reuniões de agosto e setembro. E, com a leitura de uma inflação em desaceleração mais forte, ganha força a expectativa de que o Copom já adote um tom mais brando na sua comunicação na ata deste mês, após a reunião prevista para os dias 20 e 21.

Inflação de alimentos menor
A MB Associados revisou a estimativa de inflação de 5,5% para 5,3% em 2023, com viés ainda de baixa. Segundo Sergio Vale, economista-chefe da consultoria, grande surpresa positiva do ano virá dos alimentos.

"Se alimentos fora do domicílio ainda seguem pressionados por efeito renda e residual pós-pandemia, os alimentos no domicílio devem ser a grande surpresa positiva do ano. Por ora, esperamos inflação de alimentos chegar a 3,2% no final deste ano, mas há chances de repetirmos a deflação vista em 2017, quando também tivemos uma supersafra no PIB", disse, em relatório.

Para Mirella Hirakawa, economista da AZ Quest, a desinflação observada no resultado de maio é mais um fator que tende a corroborar para a ancoragem das expectativas de inflação futura, algo que o Banco Central mantém o olhar atento já que trabalha com um horizonte maior para calibrar os juros e perseguir as metas de inflação. Mirella cita que o arcabouço fiscal, o início da discussão da reforma tributária e confirmação da manutenção da meta de inflação - a ser debatida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em reunião - também deverão ajudar no controle das expectativas:

— No momento, as expectativas seguem desancoradas e, portanto, para a reunião de junho existe pouco ou nenhum espaço para corte de juros. Mas já existe algum espaço para suavização na comunicação — diz a economista, que prevê início de corte de juros em agosto, já que o BC ainda aguarda novas informações para compor sua decisão.

Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, também espera que o Copom discuta a mudança de rumo da política monetária na reunião em junho e altere o comunicado, abrindo espaço para o primeiro corte a partir de agosto.

'Risco político'
Já a Genial Investimentos avalia que o Banco Central só deverá cortar juros a partir de setembro. Relatório da corretora cita que "um eventual corte de juros em agosto ocorreria bem num período no qual a inflação em 12 meses estaria acelerando", tendo em vista a saída dos cortes de impostos promovidos pelo governo Jair Bolsonaro (PL), quando foi registrada deflação no IPCA durante os meses de julho, agosto e setembro.

Tal movimento, segundo a Genial, demandaria cautela adicional da autoridade monetária. A corretora ainda chama atenção para o fato de que, em agosto, será a primeira reunião na qual já estarão aptos a votar os membros do Copom indicados pelo novo governo.

"O Banco Central teria que ser muito cuidadoso com a sua comunicação para não sofrer nenhuma perda de credibilidade. Sendo assim, tanto pela questão da inflação em doze meses como pelo risco político, a melhor opção para o Banco Central cogitar cortar a Selic seria a partir da reunião de setembro", informou a corretora.