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Reino Unido removerá câmeras de vigilância chinesas alguns locais por questões de segurança nacional

As medidas ocorrem devido às preocupações de que autoridades de Pequim exijam acesso aos materiais gravados pelos equipamentos

Rishi Sunak - Leon Neal/ Pool/ AFP

Pressionado por parlamentares conservadores, o Reino Unido anunciou planos para remover câmeras de vigilância chinesas de departamentos governamentais considerados sensíveis, sob a justificativa de preocupações com a segurança nacional.

O anúncio ocorre pouco mais de um mês após o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, ter destacado, durante a cúpula do G7, que a China representa o "maior desafio" global em termos de segurança e prosperidade, fala que incomodou Pequim.

De acordo com o projeto de lei, será criada uma Unidade de Aquisições de Segurança Nacional no Gabinete do governo, que publicará um cronograma para a remoção de câmeras de empresas sujeitas à Lei de Segurança Nacional da China desses locais sensíveis.

Isso ocorre, informou o site Politico, devido às preocupações de que a referida lei chinesa permita que autoridades de Pequim exijam acesso aos materiais gravados.

Embora o governo não tenha divulgado as empresas de câmeras de vigilância específicas que serão afetadas, anteriormente já havia sido solicitada a imposição de sanções à venda e ao uso de câmeras produzidas pela Hikvision e Dahua — duas fabricantes chinesas parcialmente estatais supostamente envolvidas em violações de privacidade e direitos humanos na China, segundo o governo britânico.

Contudo, apesar das concessões feitas pelo governo no projeto de lei de aquisições, os parlamentares conservadores rebeldes, liderados pelos deputados Iain Duncan Smith e Alicia Kearns, ainda expressam preocupações e destacam a importância de garantir que todos departamentos do governo sejam considerados "sensíveis" e, portanto, sejam protegidos.

A China, por sua vez, expressou forte oposição ao uso do argumento de segurança nacional para dificultar as atividades de empresas chinesas no Reino Unido. "O governo chinês sempre incentivou as empresas chinesas a conduzir investimentos e cooperação internacionais de acordo com os princípios do mercado, regras internacionais e leis locais. Pedimos ao Reino Unido que pare a manipulação política e forneça um ambiente justo e não discriminatório para a operação normal das empresas chinesas no Reino Unido", disse em comunicado a embaixada chinesa no país.

Tais medidas vêm como parte de um movimento mais amplo do governo britânico para restringir a presença de tecnologia chinesa no Reino Unido. Anteriormente, a plataforma de mídia social TikTok, de propriedade chinesa, foi suspensa nos telefones do governo em março deste ano, e em 2020 a Huawei — maior fornecedora de equipamentos para redes e telecomunicações do mundo — foi proibida de participar do desenvolvimento da rede 5G no país.

Além disso, três dos maiores supermercados do país, incluindo Morrisons e Tesco, já proibiram o uso de câmeras de vigilância chinesas em suas lojas, também citando preocupações com segurança e ética.

O projeto de lei de aquisições será debatido novamente pelos deputados na Câmara dos Comuns em 13 de junho, quando se espera uma discussão mais aprofundada sobre o assunto e possíveis alterações nas propostas apresentadas pelo governo.

'Calúnias maliciosas'
As relações entre Londres e Pequim se deterioraram consideravelmente nos últimos anos, principalmente devido à repressão do movimento pró-democracia em Hong Kong, ex-colônia britânica, à situação da minoria muçulmana uigur e às suspeitas de espionagem relacionadas com a empresa de telecomunicações Huawei.

Adicionalmente, o governo britânico ordenou,nesta terça-feira, que a China feche as "delegacias de polícia" clandestinas que operam em solo britânico, postos extraoficiais que deveriam fornecer serviços administrativos, mas são acusados de perseguir opositores do regime chinês.

Além disso, no mês passado, a embaixada chinesa no Reino Unido já havia "condenado veementemente" a postura do primeiro-ministro britânico na cúpula do G7, no Japão, após Sunak afirmar que "a China representa o maior desafio do mundo" para a segurança e prosperidade.

Embora o premier tenha destacado a importância de não se afastar da segunda maior economia do mundo, a fala desagradou Pequim, que repreendeu o governo britânico e alertou sobre possíveis danos às relações entre os dois países. "As observações relevantes do lado britânico são simplesmente repetições de palavras de outros e são calúnias maliciosas em desconsideração dos fatos", declarou a embaixada na ocasião.