Brasília

Lotérica apontada como 'lavandeira' de dinheiro de suposto esquema de kits de robótica fecha

Estabelecimento entrou na mira da PF após realizar movimentações consideradas atípicas

Lotérica apontada como 'lavandeira' de dinheiro de suposto esquema de kits de robótica - Eduardo Gonçalves

Uma lotérica em Brasília apontada como "lavanderia" de dinheiro de um suposto esquema de fraude compras de kits de robótica para escolas públicas fechou as portas após entrar na mira de uma investigação da Polícia Federal. Situado no centro da capital federal, o estabelecimento foi alvo de um mandado de busca e apreensão na última quinta-feira. Os agentes, no entanto, se depararam com as portas fechadas.

A lotérica está inativa há pelos menos três meses, segundo o relato de vizinhos. Pouco tempo antes, a casa de apostas estava em plena atividade, sendo utilizada por um casal suspeito de movimentar dinheiro em espécie, sacando valores que chamaram a atenção dos investigadores.

Diante dessa suspeita, a PF passou a monitorar durante sete meses a rotina do casal, que ia com frequência à lotérica em Brasília, entrando geralmente no fim do expediente com uma mochila vazia pela área reservada aos funcionários do estabelecimento e saindo com a bolsa cheia, segundo a investigação.

Segundo os investigadores, empresas do casal realizavam transferências atípicas para a lotérica, onde, em seguida, eram feitos saques de dinheiro em espécie, de forma fragmentada para não chamar a atenção das autoridades. Um relatório da PF aponta que foram feitas 34 operações com o estabelecimento no valor total de R$ 2,4 milhões.

Ao analisar essas transações, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de combate à lavagem de dinheiro, constatou que a lotérica "pode funcionar como mecanismo de lavagem de capitais para as quantias ilícitas movimentadas pelas empresas do casal", cuja defesa nega qualquer irregularidade.

Segundo a PF, as movimentações financeiras atípicas demonstram indícios de que o casal atuava como operador de "considerável e amplo esquema de lavagem de capitais em vários estados da Federação, ocultando e dissimulando bens, direitos e valores provenientes de práticas delitivas cometidas por diversos núcleos criminosos, com ou sem conexão entre si".

Essa suspeita da PF é baseada em um trabalho de vigilância feito por agentes que seguiram e filmaram o casal em diferentes lugares do país. Após fazer os saques na lotérica, os suspeitos iam a hotéis de luxo, postos de gasolina, estacionamentos e churrascaria para encontrar com interlocutores. A suspeita dos investigadores é que foram feitas entregas de dinheiro em espécie em ao menos seis cidades diferentes.

O casal entrou na mira das investigações depois que as suas empresas chamaram a atenção das autoridades por receber "valores vultosos" de uma fornecedora de equipamentos de robótica para escolas públicas de municípios de Alagoas. Os contratos são suspeitos de serem superfaturados, segundo a PF.

Após seguir o caminho do dinheiro, investigadores descobriram que o suposto esquema gerou um prejuízo de R$ 8,1 milhões aos cofres do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), ligado ao Ministério da Educação (MEC). A fornecedora dos kits de robótica chegou a cobrar R$ 14 mil por equipamento após comprá-lo por R$ 2.700. A empresa nega qualquer irregularidade. O caso segue sob investigação.