Inteligência Artificial

Funcionários do Google que ajudaram a treinar Inteligência Artificial buscam direitos

Equipe contratada pela Accenture, que ajudou a construir o chatbot Bard, alega que a Alphabet também é responsável e obrigada a negociar se eles se sindicalizarem

Ações da Alphabet, dona do Google, caíram devido aos temores do chatbot de inteligência artificial Bard dar respostas imprecisas Bloomberg. - Arquivo Reuters/Hannah McKey

Um grupo de 120 trabalhadores contratados da Alphabet, dona do Google, está lançando uma campanha de sindicalização. Escritores, designers gráficos e coordenadores de lançamento querem ser ouvidos pela empresa que ajudaram a treinar um de seus produtos mais importantes de inteligência artificial - incluindo o de respostas generativas no mecanismo de busca e o chatbot do Google, o Bard.

Contratados por meio da fornecedora Accenture para prestar serviços à Google há quatro anos, os trabalhadores tentam ainda negociar diretamente com a Alphabet, que eles argumentam ser legalmente também sua chefe. O grupo está se organizando a partir do Alphabet Workers Union, sindicato de trabalhadores empregados na Alphabet.

Os trabalhadores pedem aumento do tempo de folga remunerado, controle sobre a aceitação de atribuições fora do escopo de seu trabalho habitual e remuneração competitiva que reflita seus conjuntos de habilidades.

Os funcionários alegam que a Alphabet é um “empregador conjunto” – uma empresa com controle suficiente sobre um grupo de funcionários e, por isso, responsável por seu tratamento e obrigada a negociar se eles se sindicalizarem, mesmo que não assinem seus contracheques.

A Alphabet não respondeu imediatamente a um pedido de comentário feito pela Bloomberg. A Accenture reconheceu ter recebido uma carta de trabalhadores solicitando que a empresa reconhecesse seu sindicato. “Sempre valorizamos a capacidade de ouvir diretamente nosso pessoal e responder às suas preocupações”, disse Rachel Frey, porta-voz da Accenture, em comunicado.

Profissionais temem perder emprego para a IA
A luta trabalhista da Accenture é uma das várias parcialmente motivadas por preocupações com a IA. Roteiristas de TV e cinema estão em greve há um mês, exigindo proteções, incluindo restrições ao uso de manuscritos gerados por computador. Em maio, jornalistas da CNET anunciaram uma campanha de sindicalização, dizendo que queriam ter voz na tomada de decisões no local de trabalho “especialmente porque a tecnologia automatizada ameaça nossos empregos e reputações”.

Mas o resultado do esforço de organização dos trabalhadores do Google pode não ser tão fácil de se obter. Nos Estados Unidos, quando a maioria dos funcionários em um local de trabalho se inscreve para se sindicalizar, uma empresa pode voluntariamente reconhecer e negociar com o grupo trabalhista ou recusar-se a fazê-lo, a menos que o sindicato primeiro vença uma eleição governamental.

O processo de determinar quem deve ser elegível para votar em uma eleição pode levar semanas ou meses, e as empresas costumam usar esse tempo para combater os esforços de organização usando táticas como reuniões antissindicais obrigatórias.

E, mesmo depois de garantir o reconhecimento sindical, o progresso pode ser lento. Os trabalhadores do YouTube contratados por meio da agência de empregos Cognizant votaram pela sindicalização em abril, mas a Alphabet está apelando da decisão de um funcionário do Conselho Nacional de Relações Trabalhistas dos EUA. A batalha jurídica pode se arrastar por anos, algo que pode acabar acontecendo também com os funcionários da Accenture.

Os funcionários da Accenture disseram que não se intimidam com a perspectiva de uma longa campanha. “O que realmente queremos é longevidade no trabalho e mais respeito e autonomia do Google”, disse Tahlia Kirk, redatora e treinadora de equipe da Accenture.