Saúde

Ozempic: semaglutida corta consumo de álcool pela metade, aponta novo estudo

Remédio tem ação no sistema de recompensa do cérebro, diminuindo vontade de beber

Ozempic corre risco de falta em farmácias após se popularizar no uso off-label para emagrecimento. - Joel Saget/AFP

A semaglutida — princípio ativo do Ozempic — é eficaz para tratar diabetes tipo 2, obesidade e, provavelmente, dependência de álcool. É o que sugere um novo estudo feito por pesquisadores da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, e publicado na revista científica eBioMedicine.

Há evidências anedóticas — ainda não comprovadas cientificamente — de pacientes com obesidade ou diabetes dizendo que seu desejo por álcool diminuiu desde que começaram a tomar o medicamento.

No estudo, ratos dependentes de álcool foram tratados com semaglutida, o que reduziu significativamente o consumo de álcool e até mesmo a ingestão em recaídas — que constituem um grande problema para indivíduos com dependência de álcool, pois quando uma pessoa que se absteve de álcool por um período recai, ela bebe mais do que antes da abstinência.

Na pesquisa, os roedores tratados com semaglutida reduziram a ingestão de álcool pela metade em comparação com os animais que não receberam tratamento. O remédio reduziu a ingestão de álcool igualmente em ratos machos e fêmeas.

Os cientistas ponderam que mais estudos são necessários antes de indicar a semaglutida para o controle da dependência de álcool.

"Existem, é claro, diferenças na realização de estudos em animais e humanos, e isso sempre deve ser levado em consideração. No entanto, neste caso, há um estudo anterior em humanos em que uma versão mais antiga dos medicamentos para diabetes que agem sobre o GLP-1 reduzem a ingestão de álcool em indivíduos com sobrepeso e dependentes alcoólicos”, diz Elisabet Jerlhag, professora de farmacologia na Universidade de Gotemburgo.

O Ozempic é um medicamento que tem como princípio ativo a semaglutida, uma forma sintética do hormônio GLP-1, aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o tratamento de diabetes tipo 2.

O remédio age no corpo imitando um hormônio ligado ao apetite e a alimentação, ajudando a estimular a produção de insulina e, assim, a diminuir os níveis de glicose no sangue do indivíduo. Por conta deste mecanismo, quem usa o remédio sente menos fome e, consequentemente, se alimenta menos e emagrece.

Ação no cérebro
O estudo atual também examinou por que a medicação reduz o consumo de álcool. Os resultados indicam que isso está relacionado à sensação de recompensa induzida pelo álcool. Na pesquisa, a semaglutida afetou o sistema de recompensa do cérebro em camundongos, para ser mais exato a área do núcleo accumbens do cérebro, que faz parte do sistema límbico. Isso pode explicar por que os ratos reduziram o desejo por álcool

“O álcool ativa o sistema de recompensa do cérebro, resultando na liberação de dopamina, algo que é visto tanto em humanos quanto em animais", diz Cajsa Aranäs, estudante de doutorado na Universidade de Gotemburgo, coautor do estudo.

A redução do desejo por álcool não é o único "efeito colateral" inesperado. Pacientes que usam o Ozempic relatam — além da diminuição do consumo de álcool — redução do tabagismo, de comportamentos compulsivos como vício em jogo, roer as unhas ou cutucar a pele.