FRANÇA

Ataque com faca na França: saiba quem é o "herói da mochila" que enfrentou agressor em parque

Justiça francesa descarta "motivação terrorista", por ora, e avalia estado psiquiátrico do autor

Henri d'A., de 24 anos, enfrentou o autor de ataque a faca em Annency, e ficou conhecido como o 'herói da mochila' - Reprodução/Redes sociais

Um homem segurando com duas mochilas chamou a atenção dos franceses nesta quinta-feira (8) ao tentar impedir uma tragédia maior em um parque infantil situado na cidade de Annecy, no leste da França. Henri d'A., de 24 anos, usou suas bolsas para conter o homem de nacionalidade síria e radicado na Bélgica que feriu seis pessoas antes de ser detido pela polícia. Ele agora é tratado como herói na França.

As imagens do ataque rapidamente circularam nas redes sociais. Os vídeos mostram a maioria das pessoas paralisadas diante das agressões feitas pelo sírio, enquanto outras fogem correndo do local. E então o jovem morador de Paris, que viajava o país em um tour para conhecer catedrais, aparece fisicamente aos golpes do assassino, desviando sua atenção e puxando-o para fora do perímetro onde estavam os bebês.

Henri d'A. usou uma de suas mochilas como proteção. Em dado momento, ele tenta acertar o agressor com uma de suas bolsas. E depois se livra de uma delas para perseguir o sírio mais rapidamente. Logo, passou a ser tratado como o "herói da mochila", na França.

O jovem parisiense estava de passagem por Annency. Há dois meses, Henri d'A. embarcou em um passeio pelas catedrais da França, a pé e de carona. Ele registra tudo em um perfil no Instagram. Após o ato heroico, o francês publicou uma mensagem de agradecimento e solidariedade nas redes sociais.
 

"Obrigado por todas as suas mensagens de apoio! Estou pensando particularmente nas vítimas e em seus pais. Espero que eles saiam disso. A aventura não para! Vejo vocês em breve", afirmou.

Henri d'A. é formado em filosofia e gestão internacional. Ele se define como um "amante das catedrais" e diz que vai rodar a França ao longo de nove meses para conhecer igrejas pelo país.

"Pensamentos ruins"
A ex-mulher de um refugiado sírio que, armado com uma faca, feriu seis pessoas em um parque de Annecy, nos Alpes franceses, nesta quinta-feira, afirmou que o ex-marido tinha "pensamentos ruins" e estava vivendo "em uma igreja" da França nos últimos quatro meses. Ele foi preso logo após o ataque, que deixou quatro crianças em estado crítico.

Segundo a mulher, o ex-marido, com quem tem uma filha de três anos, foi embora da Suécia porque não obteve a nacionalidade do país. Já a mãe do autor do ataque, que vive nos Estados Unidos há dez anos, disse à AFP estar em "estado de choque".

— Ele não me disse nada. Foi minha nora quem me disse — detalhou. — Ela dizia que ele nunca estava bem, sempre deprimido, com pensamentos ruins, não queria sair de casa, não queria trabalhar.

O ataque gerou comoção e revolta na França, cujas autoridades agora investigam a motivação do agressor. A Justiça abriu uma investigação por tentativas de assassinato, descartando por ora uma "motivação terrorista", disse a promotora de Annecy, Line Bonnet-Mathis, que também detalhou que o agressor não agiu sob efeitos de drogas ou álcool.

A primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, que visitou a cidade turística de cerca de 140 mil habitantes nos Alpes, observou que o homem não tinha antecedentes judiciais ou psiquiátricos conhecidos.

O ministro do Interior Gérald Darmanin declarou à emissora TF1 que, na manhã desta sexta-feira, o homem deverá ser submetido a um exame psiquiátrico. Darmanin afirmou que, "por razões ainda não esclarecidas", o agressor buscou asilo também em Suíça, Itália e França. Em seguida, descreveu a recusa dos pedidos de asilo e o ataque com faca como uma "preocupante coincidência".

O agressor era um refugiado sírio que obteve proteção na Suécia em 2013, onde viveu por dez anos. Ele se mudou para a França no fim de 2022, onde solicitou asilo em novembro, segundo várias fontes.

O agressor exclamou "em nome de Jesus Cristo" em inglês quando atacou, segundo um vídeo ao qual a AFP teve acesso. Quando foi detido, portava uma cruz e, em seu arquivo de pedido de asilo, declarou-se um "cristão da Síria", de acordo com uma fonte policial.

Este "ataque absolutamente covarde" e que deixou "várias crianças e um adulto entre a vida e a morte", nas palavras do presidente Emmanuel Macron, causou comoção na França e demonstrações de solidariedade na Europa.

Quatro crianças em estado crítico
O ataque ocorreu por volta das 9h30 (4h30 no horário de Brasília), nos Jardins da Europa, um parque muito frequentado às margens do Lago Annecy. Vestido de preto e com um lenço na cabeça, o agressor caminhou em direção aos carrinhos e atacou as crianças em uma área de recreação.

Diversas testemunhas relataram que o agressor tentou fugir, ferindo um homem em seu caminho, antes de ser rapidamente detido pela polícia, que atirou contra ele.

— Ele queria atacar todo mundo. Eu me afastei, e ele atacou um avô e uma avó e esfaqueou o avô — disse Anthony Le Tallec, ex-jogador do Saint Etienne e do Liverpool, ao jornal regional "Le Dauphiné".

Seis pessoas ficaram feridas, entre elas quatro crianças, que se encontram em estado crítico. Há também um adulto em estado grave, segundo a promotora de Annecy. As quatro crianças, entre elas uma holandesa e uma britânica, foram levadas para Genebra (Suíça) e Grenoble, depois de um primeiro atendimento no local.

— O estado de saúde é extremamente frágil, estão ainda em emergência absoluta — disse a promotora Bonnet-Mathis, que destacou que o agressor mirou nas "partes vitais".

Um adulto também foi internado após ser atacado pelo agressor e atingido depois por disparos da polícia durante a detenção. Outro adulto teve ferimentos leves, segundo a promotora.

Pela tarde, as autoridades reabriram o acesso ao parque. Muitas crianças voltaram a brincar na mesma área onde ocorreu a agressão.