Brasil é o maior alvo de ataques cibernéticos na América Latina. Veja ranking
País sofreu com alta de 19% no número de ataques no segundo semestre de 2022
O Brasil é o principal alvo de ciberataques na América Latina e esta é a realidade da região não só hoje, mas há quase uma década. É o que revela a Netscout, empresa líder global em soluções de cibersegurança, com exclusividade ao Globo.
O relatório intitulado "Global DDoS Threat Intelligence" aponta que o Brasil sofreu um aumento de 19% no número de tentativas de ataques cibernéticos no segundo semestre de 2022, em relação ao primeiro. O aumento é ainda superior ao observado na média mundial, que foi de 13% no período.
Foram registrados mais de 285 mil ataques no país no período - cerca de 40% das 727 mil tentativas de invasão em toda a América Latina. Veja a seguir o ranking:
Países que mais sofrem ataques cibernéticos na América Latina
Brasil: 285.529
Colômbia: 90.063
Argentina: 25.800
Equador: 24.540
Chile: 24.184
México: 15.328
Peru: 14.197
Venezuela: 2.537 Total da região: 727.686 (considerando um total de 21 países que compõem a América Latina)
Os números da pesquisa se referem ao segundo semestre de 2022 e traçam uma comparação com o primeiro semestre do mesmo ano. Mas a realidade pouco mudou desde 2013, quando a pesquisa começou a ser apurada. De lá para cá, invariavelmente, o Brasil aparece como maior alvo e também como o maior gerador de ataques na região, segundo Geraldo Guazzelli, diretor-geral da Netscout Brasil:
— Eventualmente, outros países da América Latina também assumem esta posição, mas por um período curto e fundamentalmente baseado em algum evento específico — explica.
Por que o Brasil sofre tantos ciberataques?
Para Guazzelli, da Netscout, alguns fatores ajudam a explicar o que leva o Brasil a ser não só o país grande alvo de ataques, mas também um gerador de ataques, globalmente falando. Segundo o diretor, houve um crescimento exponencial em infraestrutura e serviços desde a privatização do mercado das telecomunicações até agora, elevando a posição de destaque do país.
— Além disso, o país tem grande destaque hoje tem em termos de presença global. O Brasil é um grande produtor agropecuário, alimenta quase 15% da população mundial, e se tornou um alvo para os hackers. Além disso, o país se tornou também uma possibilidade para os hackers na criação de bootnets (rede de dispositivos controlados remotamente por um cibercriminoso) que atuam fortemente nos ataques globais.
Segundo o relatório, os principais setores-alvos de cibercriminosos no Brasil são as operações de telecomunicação sem fio, telecomunicação com fio e servidores de processamento de dados. Estes também são os focos de invasão na América Latina como um todo. Outros setores como servidores de processamento de dados, agências e corretoras de seguros e empresas locais de transporte de cargas também atraem a atenção dos grupos hackers.
Ataques cibernéticos avançam 13% no mundo
A pesquisa também revela o quanto os ciberataques vêm crescendo no mundo todo. Houve um aumento de 13% nas tentativas de invasão no segundo semestre de 2022, em relação ao primeiro. Isso significa atingir um marco de mais de 6 milhões de ataques - mais precisamente, 6.797.959 - com os países da Europa, Oriente-Médio e África sendo alvo de mais de um terço (2.102.844) das ações intrusivas.
Não por acaso crescem os relatos de empresas alvos de ataques cibernéticos. Segundo Guazzelli, as empresas vêm sendo afetadas tanto por indisponibilidade de serviços, incluindo a a extração de dados confidenciais quanto por casos considerados ainda mais críticos, que prevê o "sequestro" de servidores ou parte da infraestrutura.
É o chamado ataque "ransomware", quando os dados são sequestrados e é feita uma solicitação de resgate. Em geral, o invasor pede uma quantia em moedas digitais, para liberar os serviços, servidores ou parte infraestrutura sequestrada. Casos recentes e públicos como os da Fleury, JBS e Atento chamam a atenção das empresas e da sociedade, mas estão longe de serem isolados, diz Guazzelli:
— Muitos ataques acontecem e não são divulgados. Mas as empresas e o ecossistema em geral sempre aprendem algo. O fator preponderante está na vontade de converter o aprendizado em investimento, para identificar e até mesmo evitar que esses casos se repitam.
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Na avaliação do diretor-executivo, a mensagem que fica para as empresas em relação aos ataques cibernéticos é de que, em algum momento, haverá ou deve haver um descanso ou uma desatenção.
— Quem está na defesa precisa estar sempre atento e atualizado com as melhores práticas e técnicas disponíveis no mercado. A visibilidade plena é a palavra-chave inicial, para ver e entender o que se passa nas redes internas das empresas, e no que entra e sai pela internet, para planejar e definir soluções, processos e pessoas — conclui.