Inundações causadas por rompimento de barragem na Ucrânia dão "tempo" para Rússia reforçar defesa
Kiev confirmou que forças russas se deslocaram de Kherson para Zaporíjia e Donetsk depois da destruição da represa que impede temporariamente um ataque no suL
A destruição da represa de Nova Kakhovka deu uma vantagem militar à Rússia, em meio ao que analistas internacionais apontam que pode ser o início da esperada contraofensiva ucraniana. A largura do Rio Dniéper foi ampliada em vários quilômetros na altura das províncias de Dnipro e Kherson, apesar do governador da região, Oleksandr Prokudin, ter informado, no domingo, que a zona inundada já foi reduzida a quase a metade do tamanho inicial, passando de 139 km2 para 77 km2 .
Os ataques anfíbios que a Ucrânia estava fazendo com forças especiais foram suspensos por causa das novas dificuldades no terreno. A vice-ministra da Defesa ucraniana, Hanna Maliar, informou, no domingo, que os russos estão deslocando as melhores unidades que estavam defendendo Kherson para Zaporíjia e Donetsk, onde estão acontecendo as principais operações contraofensivas da Ucrânia.
De acordo com a ministra, as tropas da força naval russa, além dos batalhões aerotransportados e da 49ª armada de infantaria estão indo para o leste. Os fuzileiros navais russos e as unidades aerotransportadas então entre as melhores divisões do exército invasor.
Na frente de Donetsk, as ofensivas russas repetem sempre o mesmo padrão: depois dos ataques de artilharia, primeiro avançam os mercenários do Grupo Wagner — usados como bucha de canhão — que abatem as posições ucranianas e abrem caminho para as forças russas assegurarem o terreno.
“A explosão da represa de Nova Kakhovka foi aparentemente executada com o objetivo de prevenir uma ofensiva da Forças Armadas Ucranianas em Kherson e liberar reservas militares para serem transferidas a Zaporíjia e Bakhmut (Donetsk)” na região de Donetsk, escreveu Maliar em um comunicado. A vice-ministra também completou que a destruição da barragem também favorece a Rússia por ter forçado Kiev a destinar parte das tropas a tarefas de ajuda humanitária.
Como em dias anteriores, a Rússia voltou a atacar uma embarcação que fazia o resgate de moradores de áreas inundadas. Seis pessoas ficaram feridas, segundo Andri Yermak, chefe do gabinete regional da presidência ucraniana.
O general francês Jérome Pellistrandi disse na quarta ao El País que era visível que a Rússia aproveitou a situação para reposicionar as tropas que estavam em Kherson para o leste.
"Com essa situação de assistência civil, talvez não seja possível lançar operações militares na região por semanas" avaliou o general.
O almirante James Foggo, antigo comandante da frota americana no Mediterrâneo também avaliou que o principal contratempo agora é que a frente sul não poderá ser teatro de operações militares por algum tempo.
"A inundação aumenta os problemas para a Ucrânia porque terão que destinar recursos (militares) ao apoio humanitário. No entanto, para a Rússia também é um contratempo porque reduz os recursos energéticos e de abastecimento de água."
O reservatório de Nova Kakhovka abastecia os campos agrícolas de Kherson, tanto no oeste como no leste ocupado pelo invasor, e, principalmente, fornecia água à Crimeia, a península ucraniana anexada à força pela Rússia desde 2014.