ACORDO

Empresários brasileiros e europeus pedem acordo "tempestivo e equilibrado" entre Mercosul e UE

Nota conjunta afirma que acordo é 'crucial' para levar relações bilaterais a um patamar mais elevado

Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen - Olivier Hoslet / Pool / AFP

Empresários brasileiros e europeus divulgaram uma nota de apoio ao acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. O comunicado foi tornado público nesta segunda-feira, dia em que haverá uma reunião bilateral entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Ursula von der Leyen, que preside a União Europeia.

No comunicado, as entidades pedem que os negociadores sejam mais flexíveis, para chegarem a um acordo "equilibrado e tempestivo". A nota destaca que a concretização do acordo será "crucial para alavancar nossas relações bilaterais a um novo patamar".

"Ao estabelecer uma das maiores áreas de livre comércio do mundo, que cobriria quase um quarto da economia global e 31% das exportações mundiais de bens, o acordo proporcionará benefícios concretos para ambos os blocos, inclusive no sentido de se atingir a neutralidade climática", diz um trecho de uma nota conjunta assinada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Confederação das Empresas Europeias (BusinessEurope).

A questão ambiental é um fator que contribui para a demora em o acordo sair do papel. A União Europeia divulgou sua proposta de adendo ao tratado, cujas negociações foram concluídas em meados de 2019. Os europeus querem compromissos adicionais do Mercosul e meio ambiente e, segundo alertou o chanceler Mauro Vieira, em audiência pública na Câmara, o texto permite inclusive retaliações comerciais contra os países do bloco sulo-americanos.

Os europeus também fecharam o cerco às exportações de produtos oriundos de áreas desmatadas, medida que deve atingir itens como carnes, café e soja do Brasil. O governo brasileiro argumenta que a medida deve se aplicar exclusivamente ao desmatamento ilegal.
 

Já Lula indicou que quer rever a parte de compras governamentais que prevê o mesmo tratamento a empresas brasileiras e europeias em licitações públicas. O acerto, feito no governo anterior, tem sido criticada pelo presidente nas últimas semanas.

De acordo com a nota, a UE e o Brasil têm, tradicionalmente, sido parceiros comerciais importantes. O comércio bilateral atingiu um valor recorde de quase 90,5 bilhões de euros no ano passado.

Além disso, a UE tem um estoque de de 277 bilhões de euros investidos no Brasil e recebeu cerca de 132 bilhões de euros em investimentos diretos brasileiros. O Brasil é o maior investidor latino-americano na região.

As entidades enfatizaram que é motivo de preocupação que, embora com grande potencial, as relações de comércio e investimentos estejam cada vez mais expostas a grandes desafios globais. São exemplos aumentos significativos nos preços de energias, gargalos nas cadeias de suprimentos e atritos geopolíticos que levam o mundo à beira de uma nova onda de protecionismo prejudicial às economias.

"Estamos preocupados que essas circunstâncias tenham exacerbado o lamentável declínio da relevância da relação comercial UE-Brasil em favor de outros grandes concorrentes – situação na qual o Acordo Mercosul-UE ajudaria a reavivar a relação comercial bilateral", diz o comunicado.

A União Europeia, que já foi o principal parceiro comercial do Brasil, agora responde por apenas 16% das importações globais do país. O bloco ocupa a terceira posição entre os principais fornecedores. Por outro lado, o Brasil foi superado por países como Índia e Coreia do Sul no ranking dos principais parceiros comerciais extrabloco da UE.

" Estamos confiantes de que os compromissos equilibrados acordados em 2019 permitem que ambas as partes promovam os fluxos bilaterais de comércio e investimentos, diversifiquem suas cadeias de suprimentos, sustentem empregos bem remunerados em ambas as partes, ao mesmo tempo em que efetivamente protegem o meio ambiente e atendem aos mais altos padrões de desenvolvimento sustentável".

Além do acordo entre as duas regiões, Lula e Ursula non der Leyen vão conversar sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia. O presidente brasileiro defende a criação de um grupo de países não alinhados para ajudar a chegar a um acordo de paz.