Americanas revela detalhes do esquema de fraude bilionária: ações sobem quase 20% com relatório
Contratos eram feitos sem a efetiva contratação de fornecedores e com conhecimento da diretoria antiga, incluindo o ex-CEO Miguel Gutierrez, diz documento
As ações da Americanas subiram quase 20% nesta terça-feira, após a empresa divulgar resultados preliminares da investigação independente que vem sendo feita sobre a fraude que abriu um rombo bilionário nas finanças da companhia. O relatório mostra um esquema de contratos sem a efetiva contratação de fornecedores e com participação dos diretores, incluindo o ex-CEO Miguel Gutierrez.
No pico da alta na Bolsa, os papéis alcançaram a máxima de R$ 1,38, valorização de 18,97%.
Os documentos analisados indicam que "as demonstrações financeiras da companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior" e revelam "os esforços da diretoria anterior para ocultar do Conselho de Administração e do mercado em geral a real situação de resultado e patrimonial da companhia".
Gutierrez comandou a Americanas por cerca de duas décadas e deixou a companhia no fim do ano passado, antes de o escândalo vir à tona. Além dele, a investigação indicou a participação de outros diretores, já afastados, na fraude. São eles:
Miguel Gutierrez, que deixou a companhia em 31 de dezembro de 2022.
José Timótheo de Barros, afastado de suas funções executivas em 3
de fevereiro de 2023 e que comunicou sua renúncia em 1º de maio de 2023.
Anna Christina Ramos Saicali, Márcio Cruz Meirelles, Fábio da
Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes, também afastados em 3 de fevereiro de 2023.
De acordo com o fato relevante, a fraude ocorreu por um período "significativo" e atingiu, em números preliminares e não auditados, o montante de R$ 21,7 bilhões em 30 de setembro de 2022.
Ainda segundo o comunicado, foram identificados diversos contratos de verba de propaganda cooperada e instrumentos similares (“VPC”), que teriam sido artificialmente criados para melhorar os resultados operacionais da companhia.
Funcionavam como redutores de custo, mas sem efetiva contratação com fornecedores. Esses contratos são incentivos comerciais usualmente utilizados no setor de varejo.
As contrapartidas contábeis para esses contratos "se deram majoritariamente na forma de lançamentos redutores da conta de fornecedores, totalizando, em números preliminares e não auditados, R$ 17,7 bilhões em 30 de setembro de 2022".
A diferença de R$ 4 bilhões teve como contrapartidas lançamentos contábeis em outras contas do ativo da companhia, diz o documento.
A investigação apontou ainda que, como forma de gerar o caixa necessário para a continuidade das operações da Americanas, a diretoria anterior contratou uma série de financiamentos "sem as devidas aprovações societárias e todas inadequadamente contabilizadas no balanço patrimonial da companhia de 30 de setembro de 2022 na conta fornecedores:
Operações de financiamento de compras (risco sacado, forfait ou confirming) de R$ 18,4 bilhões
Operações de financiamento de capital de giro de R$ 2,2 bilhões
De acordo com a Americanas, "a indevida contabilização dessas operações de financiamento nos demonstrativos financeiros permitiu a correta determinação do grau de endividamento da companhia ao longo do tempo".