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TV Brasil volta a transmitir programação do governo em live de Lula

Canal da estatal também foi alvo de críticas por cargo a criador do perfil Dilma Bolada e por presidente defender cobertura positiva do MST

Lula faz sua primeira live do governo mais de cinco meses após assumir mandato - Ricardo Stuckert/Presidência

Três meses após a primeira-dama ser alvo de processos por ter usado as instalações da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) para realizar uma transmissão ao vivo, o presidente Lula (PT) fez nesta terça-feira sua primeira live também produzida e transmitida pela TV Brasil. O episódio reacende a polêmica iniciada por Janja sobre a promoção do governo através do maquinário público.

Em março deste ano, a primeira-dama se tornou alvo de processos na Justiça Federal após participar do programa "Papo de Respeito", da TV Brasil. Opositores do governo entraram com ações sob a alegação de que a presença de que o conteúdo teria ferido a autonomia da EBC e violado o princípio da impessoalidade no poder público.

Na ocasião, o programa utilizou as dependências da emissora em Brasília e, além de Janja, contou com a participação da ministra das Mulheres Cida Gonçalves e da atriz e apresentadora Luana Xavier. Já nesta terça-feira, Lula filmou a "Conversa com Presidente" direto do Palácio do Alvorada, mas contou com o apoio técnico da emissora.

Além das lives, a EBC, estatal que controla a TV Brasil, foi alvo de outras polêmicas desde o início do mandato. O publicitário e criador do perfil Dilma Bolada, Jeferson de Oliveira Monteiro, assumiu um cargo de gerência na empresa. Monteiro ganhou projeção nacional em 2013, aos 23 anos, quando lançou a sátira on-line sobre a então presidente.

Na gestão da petista, chegou a ser recebido no Palácio do Planalto e se tornou um dos maiores personagens das redes sociais. Em 2017, em delação premiada, a publicitária Mônica Moura disse que ela e o marido, João Santana, pagaram R$ 200 mil a Monteiro durante a campanha eleitoral de 2014. O publicitário negou as acusações.

Recentemente, em meio à CPI do MST, o presidente da EBC Hélio Doyle defendeu que a população brasileira deve conhecer os pontos positivos do movimento social. A declaração fez com que seu nome fosse ventilado para uma possível convocação por parte da oposição de Lula, maioria no colegiado.

Em entrevista à Rede TVT, Doyle afirmou que a estatal responsável pelas mídias do governo promoverá uma cobertura "real" do movimento:

— Nós queremos mostrar as coisas como elas são. A linha é a seguinte: o que podemos mostrar de positivo do MST, que eles não mostram? É uma postura ideológica, mas não uma postura partidária. Postura ideológica no sentido de dar voz a aqueles que não tem voz no sistema privado — disse.

A vinculação recorrente entre governo e EBC contraria às promessas de campanha de Lula. No ano passado, o então candidato prometeu que desfaria a fusão da TV Brasil com a antiga NBR, que veiculava informações sobre o governo federal por ser ligada à Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República.

Após a medida implementada na gestão de Bolsonaro, o canal passou a transmitir, por exemplo, agendas do presidente. Apesar das críticas públicas por parte do governo, a separação ainda não foi formalizada.