Minha Casa Minha Vida: expansão do programa para a classe média anima construtoras
Mudança também atenderia público que hoje está no "limbo do financiamento"
economia
A proposta de ampliar a faixa de renda do Minha Casa, Minha Vida para até R$ 12 mil foi bem recebida pelo setor de habitação. Presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CbicBIC), José Carlos Martins diz que a medida é essencial no atual cenário de aumento da inflação do segmento.
O Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi), do IBGE, mostra que, em maio, o setor acumulava alta de 6,13% em 12 meses.
— A origem do problema é a inflação na construção, que aumentou absurdamente nos últimos anos, com as construtoras retraindo as operações. Do último trimestre do ano passado para o primeiro de 2023, os lançamentos caíram 44%, o que é uma sinalização de que as empresas estão com medo de não ter o financiamento lá na frente, no momento de entrega do empreendimento — afirma.
Martins destaca que a extensão da faixa de renda e a elevação do teto do valor do imóvel, hoje em R$ 264 mil, devem ocorrer paralelamente:
— Os empresários não querem lançar porque o teto não é suficiente para o preço que eles precisam vender. O Conselho Curador (do FGTS) deve votar nos próximos dias uma alteração, aumentando o valor máximo do imóvel para R$ 350 mil. Já neste patamar, o limite de renda até R$ 8 mil (da faixa 3) fica inócuo, então a ampliação da faixa para R$ 12 mil vem nesse sentido.
Impacto dos juros
A Riviera Construtora, com empreendimentos na Baixada Fluminense, defende que seja criada uma linha de crédito específica para esse público, com juros menores.
— Enquanto um cliente atendido pelas condições atuais do programa tem juros de 5% a 7% ao ano, o de classe média paga até 12%. Com juros menores, você amplia o crédito e tem a chance de reduzir o valor da entrada, que são os principais problemas enfrentados por esse público — opina Vitor Sales, supervisor de Vendas da empresa.
Thiago Soares, diretor de Operações da incorporadora The Inc, conta que em um empreendimento em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, 65 das 168 unidades foram vendidas fora do Minha Casa, Minha Vida. Destes, 59 clientes tinham renda entre R$ 8 mil e R$ 12 mil:
— Se essa possibilidade já estivesse valendo, teríamos praticamente só seis unidades vendidas fora do programa, que dá condições muito vantajosas para um público que precisa do financiamento para conquistar a casa própria.
Soares avalia que o corte de renda de até R$ 12 mil ajuda a tirar uma faixa da população que se encontra num “limbo do financiamento”:
— Temos construtoras no Rio se especializando em empreendimentos de alta renda, para um público que não tem tanta necessidade de financiamento. Na outra ponta, há uma população de renda mais baixa coberta pelo Minha Casa, Minha Vida. No meio disso, ficam as famílias de classe média dos grandes centros que não estão conseguindo financiar a casa própria.
Bruna Gomes, coordenadora de Repasse da CTV Construtora, que atua na Zona Norte do Rio, cita as dificuldades de crédito em função da taxa de juros:
— Temos perdido vendas de clientes que não estão na faixa de renda do programa e que não têm fôlego financeiro para dar conta dos juros. As taxas inviabilizam a operação para um número grande famílias.