Após racismo na Espanha, Vini JR reencontra seleção com acolhimento maior que nos tempos de Tite
Tema era ainda mais superficial na CBF e não tinha eco entre jogadores e comissão
O protagonismo de Vinicius Júnior na seleção brasileira a partir do futebol apresentado em campo aumentou na mesma proporção da preocupação da entidade em lhe dar respaldo em relação aos casos de racismo na Espanha.
No ambiente da CBF, porém, o tema só ganhou corpo em 2023, e era visto de forma superficial antes da Copa do Mundo. Inclusive, relatos sobre os bastidores da entidade e da seleção indicam que nos tempos do técnico Tite o debate entre jogadores e comissão técnica sobre o assunto praticamente não existia.
O treinador costumava abordar a necessidade do tratamento igualitário enquanto grupo, mas no que se referia ao respeito e à disputa por oportunidades. O lado emocional também sempre foi uma preocupação, mas não a ponto de tratar a sensação com o racismo à tona.
Meses depois, após a troca de comando, a visão institucional se modificou, a partir da figura do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, mas ainda não virou pauta das rodas entre jogadores e da comissão do técnico interino Ramon Menezes.
A CBF fará homenagens a Vinicius Junior no amistoso de sábado contra Guiné, em Barcelona, com direito a uso de um uniforme todo preto da seleção brasileira. Durante o primeiro tempo, todos os jogadores da Seleção vestirão preto. A equipe voltará a campo após o intervalo com a camisa amarela, que também vai ter uma alusão à luta contra o racismo.
Dentro da CBF, entretanto, o combate ao preconceito ainda se dá de forma genérica nas seleções de base e profissional. Há, por outro lado, iniciativas que avançam um pouco. A parceria da CBF com o Observatório da Discriminação Racial trouxe avanços para o debate por um futebol mais igualitário. Entre as ações práticas está a bolsa para homens negros no curso de técnicos de futebol.
Durante a Copa do Mundo, houve questionamentos na CBF após a ideia de mandar para o Catar influenciadores que representassem a torcida brasileira. E no grupo estavam a podcaster Tata Estaniecki Cocielo, que, em 2018, se "fantasiou" para um Baile da Vogue com um objeto utilizado para tortura de pessoas escravizadas. Seu marido, Júlio Cocielo, também entrou para a #NossaSeleça, grupo escalado para ajudar a reconectar brasileiras e brasileiros com a Seleção. No mesmo 2018, o comediante foi processado pelo Ministério Público por racismo. Ambos foram desligados do grupo pela CBF, que informou não ter se envolvido na escolha.