Xi Jinping propõe conferência de paz entre israelenses e palestinos, em busca por influência
Depois de mediar aproximação entre iranianos e sauditas, China avança em busca de relevância diplomática na região com proposta de retomada de negociações em torno da questão palestina
O presidente da China, Xi Jinping, propôs a realização de uma conferência internacional pela paz entre israelenses e palestinos, em meio a uma investida chinesa em busca de um papel mais relevante de mediação diplomática no Oriente Médio — lugar historicamente ocupado pelos Estados Unidos e por países europeus. Em março, Pequim surpreendeu o mundo com uma intermediação incomum que resultou em um acordo de retomada de relações entre o Irã e a Arábia Saudita, que estavam rompidas havia sete anos.
“Nós devemos seguir a direção correta das conversas pela paz”, disse o líder chinês ao presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, que está em Pequim para uma visita oficial. Xi defendeu “esforços para a organização de uma ampla, mais legitimada e mais influente conferência de paz”, de acordo com um comunicado do Ministério das Relações Exteriores chinês.
Além de declarar estar disposto a “ter um papel ativo” em facilitar negociações de paz, Xi Jinping também pediu que os palestinos sejam “integrantes plenos” das Nações Unidas. Não está claro se algum dos lados envolvidos no conflito está em busca de um novo mediador.
No encontro, Abbas e Xi concordaram em estabelecer uma parceria estratégica e o presidente chinês apresentou uma proposta de solução com três pontos para a questão palestina que inclui o estabelecimento de um Estado palestino independente com retorno às fronteiras de 1967, algo que o atual governo de Israel nunca aceitou.
As negociações de paz em torno da questão palestina estão paralisadas desde 2014 e não há caminho político claro no horizonte para qualquer avanço. O ano passado foi um dos mais violentos do conflito, de acordo com a ONU.
Relevância diplomática
A nova investida chinesa na geopolítica do Oriente Médio ocorre meses depois de Arábia Saudita e Irã anunciarem uma reaproximação sob a mediação de Pequim. O acordo marcou uma mudança na política externa chinesa, antes relutante em se envolver em resolução de conflitos internacionais. O gigante asiático dá cada vez mais sinais de que pretende ter relevância diplomática equivalente ao seu peso econômico e comercial e, ao mesmo tempo, aumentar a influência política em regiões como a África e o Oriente Médio, ocupando espaços historicamente reservados aos Estados Unidos e à Europa.
Em abril, sob a batuta de Xi, os chanceleres da Arábia Saudita e do Irã se reuniram em Pequim para discutir a reabertura das missões diplomáticas e outras questões de interesse comum — no primeiro encontro entre representantes do mais alto escalão dos dois governos desde o rompimento dos vínculos em 2016, quando Riad cortou relações com Teerã após manifestantes do país terem atacado a embaixada e consulados do país em resposta à execução do clérigo xiita Nimr al-Nimr na capital saudita.
Em outro movimento recente, Xi também apresentou um plano pela paz na Ucrânia, rejeitado por Kiev e pelos Estados Unidos, porque inclui um cessar-fogo que, na prática, favoreceria a consolidação de conquistas territoriais da Rússia, aliada de Pequim. (Com Bloomberg)