Mauro Cid recebeu de militar documentos e orientações para costurar plano golpista, diz revista
Itens foram enviados ao ex-ajudante de ordens de Bolsonaro duas semanas após a eleição
O ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mauro Cid, teria recebido amparo de juristas, documentos e apresentações do Exército que subsidiaram a redação de um plano de golpe de Estado, que inclui afastamento de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e implementar uma intervenção militar no Brasil.
Os documentos teriam sido compartilhados pelo tenente-coronel Marcelino Haddad, ex-comandante do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Rio de Janeiro. As informações foram reveladas pela revista Veja nesta sexta-feira.
Segundo as investigações conduzidas pela Polícia Federal, obtidas pela revista, Haddad enviou três documentos para dar suporte ao que viria a ser um plano para deslegitimar o processo eleitoral e implementar um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). O instrumento, na prática, abriria caminho para que o Exército assumisse o controle do país temporariamente.
Os documentos foram enviados pelo tenente-coronel em conversa por WhatsApp com Cid no dia 16 de novembro do ano passado, cerca de duas semanas após a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais contra Bolsonaro.
Chegaram ao ex-ajudante de ordens um artigo sobre a preservação dos "poderes constitucionais", os anais da Constituição de 1988 e avaliações jurídicas do constitucionalista Ives Gandra Martins, notório bolsonarista, sobre o artigo 142 da Constituição — usado por bolsonaristas para validar uma eventual aplicação de GLO.
No celular de Mauro Cid, periciado pela PF, foram encontradas mensagens e documentos que revelam uma trama para realizar um golpe de Estado no Brasil, afastar ministros de Cortes Superiores e colocar o país sob intervenção militar, conforme a Veja revelou nesta quinta-feira. Entre os itens identificados no aparelho, está um documento intitulado "Forças Armadas como poder moderador", em que é apresentado um plano controverso que, em tese, autorizaria a convocação de militares para arbitrar conflitos entre os poderes.
Segundo a revista, o documento que chegou no celular de Cid ensina uma espécie de "passo a passo" do golpe — não se trata, porém, da minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres. De acordo com o plano, Bolsonaro teria que apontar supostas inconstitucionalidades praticadas pelo Judiciário aos comandantes das Forças Armadas. Os militares, no entanto, não poderiam nomear um interventor investido de poderes absolutos.
Em nota, a defesa de Bolsonaro disse que as conversas reveladas pela Veja mostram que o ex-presidente "jamais participou de qualquer conversa sobre um suposto golpe de Estado". Ainda segundo os advogados, por ser ajudante de ordens, Cid recebia todas as demandas que deveriam chegar ao mandatário e, por isso, o "celular por diversas ocasiões se transformou numa simples caixa de correspondência que registrava as mais diversas lamentações".