APÓS ELEIÇÃO

Esposa de Cid e filha de general Villas-Bôas sugerem em mensagens participação de caminhoneiros

Em conversa, Gabriela Cid e Ticiane Villas-Bôas defendem articulação após eleição

Mauro Cid atuou como ajudante de ordens de Jair Bolsonaro - Alexandre Cassiano

A esposa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, e a filha do general Eduardo Villas-Bôas, ex-comandante do Exército, sugeriram em mensagens trocadas entre si a possibilidade de o Exército orientar os caminhoneiros sobre as reivindicações nos protestos realizados após a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições.

Em mensagens trocadas no dia 2 de novembro, três dias após a eleição, as duas se mostram inconformadas com o resultado, elas defendem que os manifestantes não deveriam cobrar por intervenção federal, mas pelo impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e pela realização de novas eleições, com voto impresso.

"O EB (Exército Brasileiro) tinha que mandar alguém falar com os cabeças dos caminhoneiros e dizer quais tem que ser as reivindicações deles", afirma Ticiane Villas-Bôas, filha do general.

Gabriela Cid, mulher de Mauro Cid, concorda, e diz que os caminhoneiros estão pedindo uma intervenção federal.

"Tem que ser impeachment, novas eleições e voto impresso", diz.

Em resposta, a filha de Villas-Bôas defende a articulação com os caminhoneiros. Na conversa, Gabriela cita que era aquilo que o presidente Bolsonaro queria e que, com a população na rua, dessa vez, ao contrário das manifestações do dia 7 de setembro, ele agiria.

"Sim! Foi o que pediu o presidente. E acho que todos que podem tem que vir para Brasília. Invadir Brasília como no dia 7 de setembro e dessa vez o presidente, com toda essa força, agirá", disse.

Em nota, os advogados Bernardo Fenelon e Bruno Buonicore, que defendem Cid, afirmaram que “por respeito ao Supremo Tribunal Federal, todas as manifestações defensivas serão feitas apenas nos autos do processo”.



Entenda o caso
O celular do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), tenente-coronel Mauro Cid, tinha mensagens e documentos que revelam uma trama para dar um golpe de Estado, afastar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e colocar o país sob intervenção militar. Segundo a reportagem da revista Veja, havia no entorno próximo do ex-presidente militares e apoiadores conspirando para tentar anular o resultado da eleição de 2022, vencida por Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo a revista, um dos documentos é intitulado “Forças Armadas como poder moderador”. Nele é apresentado um plano baseado numa tese controversa em que militares poderiam ser convocados para arbitrar conflitos entre os poderes.

O documento ensina uma espécie de "passo a passo" do golpe e não é o mesmo da minuta golpista encontrada com o ex-ministro Anderson Torres. Segundo o plano, Bolsonaro deveria encaminhar as supostas inconstitucionalidades praticadas pelo Judiciário aos comandantes das Forças Armadas. Os militares então poderiam nomear um interventor investido de poderes absolutos.

Esse interventor, na sequência, poderia fixar um prazo para o “restabelecimento da ordem constitucional”. Assim, poderia suspender decições que considerasse inconstitucionais, como a diplomação de Lula. Além disso, poderia afastar preventivamente ministros do STF como Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski, que na época integravam o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No lugar, convocaria os substitutos, Kassio Nunes Marques, André Mendonça e Dias Toffoli.

Os documentos publicados pela Veja fazem parte de um relatório de 66 páginas produzido pela Diretoria de Inteligência da Polícia Federal. No telefone de Mauro Cid foi encontrado ainda outro documento, onde é aventada a hipótese de decretação de estado de sítio, uma das medidas mais extremadas previstas na Constituição para situações excepcionais, como em caso de guerra.

A trama incluiu até mesmo integrantes do alto escalão das Forças Armadas, como atestam diálogos do coronel Jean Lawand Junior, então subchefe do Estado Maior do Exército, com Mauro Cid. Após a derrota de Bolsonaro nas urnas, Lawand manteve contato frequente com Cid e cobrou, repetidamente, que fosse colocado em prática um plano golpista.