Mediação

Missão africana chega à Rússia em busca de mediação já rejeitada pela Ucrânia

Missão manteve "discussões construtivas", segundo a Presidência sul-africana

Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul - Gianluigi Guercia/AFP

Líderes africanos começaram a chegar a São Petersburgo neste sábado (17) para se reunirem com o presidente russo, Vladimir Putin, na tentativa de mediar o conflito com a Ucrânia, que já se recusou a negociar enquanto as tropas russas estiverem em seu território.

O chefe de Estado sul-africano, Cyril Ramaphosa, que lidera a delegação, foi o primeiro a chegar à antiga capital imperial russa, "para buscar um caminho para a paz após 16 meses do conflito russo-ucraniano que provocou [...] instabilidade global", segundo a Presidência sul-africana.

Também devem chegar os presidente senegalês, Macky Sall; o da Zâmbia, Hakainde Hichilema; e representantes congoleses, ugandenses e egípcios, segundo o Kremlin.

A missão fez sua primeira parada na sexta-feira em Kiev, onde se reuniu com o presidente ucraniano Volodimir Zelensky.

O mandatário ucraniano descartou uma possível mediação e destacou a prioridade da contraofensiva lançada por seu país para recuperar territórios tomados pela Rússia desde o início da operação militar, em fevereiro de 2022.

"Autorizar qualquer tipo de negociação com a Rússia, quando o ocupante está em nossa terra, equivaleria a congelar a guerra, congelar a dor e o sofrimento" e seria um "erro" que pode favorecer Moscou, declarou o presidente junto aos membros da delegação africana.

A Presidência sul-africana afirmou que a missão manteve "discussões construtivas" com Zelensky e novamente pediu "uma desescalada de ambos os lados".

Ramaphosa insistiu que é "importante ouvir com atenção" os dois países.

- Contraofensiva -

Na sexta-feira, Putin disse que a contraofensiva ucraniana não tem "nenhuma chance" de sucesso e não está alcançando nenhum de seus objetivos.

Kiev, por outro lado, garante que libertou algumas cidades e 100 km² de território, especialmente na frente sul.

"As forças ucranianas continuam realizando operações ofensivas e defensivas com relativo sucesso", disse Hanna Maliar, vice-ministra da Defesa da Ucrânia.

Em Bakhmut (leste), "nossas tropas realizam ações ofensivas, tomando áreas de altitude e áreas arborizadas para expulsar progressivamente o inimigo", acrescentou.

A Rússia alegou ter repelido um ataque de drone ucraniano a uma refinaria de petróleo na província de Briansk, que faz fronteira com a Ucrânia.

Os ataques de drones contra o território russo e a península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014, se multiplicaram nas últimas semanas.

O ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, pediu a produção de mais tanques para "atender às necessidades das forças" na operação na Ucrânia.

A missão africana é a mais recente de uma série de esforços diplomáticos que tentaram mediar o conflito, até agora sem sucesso.

O conflito na Ucrânia atingiu duramente o continente africano, após o bloqueio e a desaceleração no fornecimento de grãos ucranianos e fertilizantes russos, o que disparou os preços dos alimentos.

A África do Sul, no entanto, se recusa a condenar a Rússia por sua agressão e os aliados da Ucrânia veem suas posições muitas vezes muito próximas do Kremlin.

Putin tenta apelar aos líderes africanos, argumentando que a Rússia está lutando contra o imperialismo ocidental.

"O sistema internacional neocolonial [...] deixou de existir e o mundo multipolar, por outro lado, está se fortalecendo", declarou o presidente russo na sexta-feira.