meio ambiente

Microplástico: Estuário de Santos tem um dos maiores níveis de contaminação do mundo

Estudo realizado pela Unifesp revelou que os animais da região apresentaram o pior estado nutricional e de saúde

Poluição com plástico - Olivier Morin/AFP

Estuário de Santos, no litoral paulista, é um dos locais mais contaminados por microplásticos do mundo atualmente, segundo informações da Agência Fapesp. De acordo com estudo realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os animais da região apresentaram o pior estado nutricional e de saúde, com uma média que variou entre 12 e 16 partículas plásticas por grama de tecido.

Além de fornecer as bases para estudos futuros, o objetivo do trabalho foi o de reunir dados para ajudar a pautar novas políticas públicas para saneamento básico em todo o Brasil. A legislação atual não exige a remoção dos microplásticos dos efluentes.

Na pesquisa, a equipe avaliou ostras e mexilhões de três áreas, em julho de 2021: a região da balsa Santos-Guarujá, a praia do Góes e a ilha das Palmas. De acordo com os pesquisadores, esses animais funcionam como sentinelas da contaminação, pois filtram a água para se alimentar.

Eles então compararam os dados da contaminação destes locais com dados internacionais, publicados anteriormente em mais de cem estudos de 40 países. Os resultados, publicados recentemente na revista científica Science of the Total Environment, mostraram que a área da balsa apresentou o maior nível de contaminação.

Nesse trecho, os animais avaliados apresentaram o pior estado nutricional e de saúde, com uma média que variou entre 12 e 16 partículas plásticas por grama de tecido.

"Em um dos mexilhões, nós encontramos mais de 300 microplásticos por grama. É importante destacar que o ponto de coleta do Góes era uma comunidade tradicional de pescadores até bem pouco tempo. Hoje, vivem cerca de 300 pessoas ali, uma praia que é meio afastada e só dá para chegar de barco ou por uma trilha. Muito provavelmente, [essas pessoas] consomem esses animais na dieta, tendo em vista que esse paredão rochoso é de fácil acesso aos pescadores" disse Victor Vasques Ribeiro, doutorando no Instituto do Mar (IMar-Unifesp), à Agência Fapesp.

Um estuário é um ambiente aquático de transição entre um rio e o mar. Por isso, ele sofre a influência das marés e apresenta áreas de grande variabilidade, com água doce, na região da cabeceira, passando por águas mais salobras, até chegar às águas marinhas, próximo à desembocadura. Esses ambientes mantêm um dos ecossistemas mais importantes do país, os manguezais, que servem de abrigo e berçário para um grande número de animais.

Para o professor, Ítalo Braga de Castro, da Unifesp, os resultados não surpreendem.

"Como eu já estudava outros contaminantes, via que essa região era recordista de contaminação também para outras substâncias químicas perigosas. Aqui, nós temos o porto mais movimentado da América Latina e um dos maiores adensamentos urbanos brasileiros. Santos é uma cidade populosa: considerando toda a Baixada Santista, temos algo em torno de 1 milhão de habitantes. Tudo isso contribui para que o estuário seja alvo do lançamento de várias substâncias químicas perigosas e resíduos, que vêm das atividades domésticas e industriais, além do transporte de materiais plásticos no mar" explicou à Agência Fapesp.

O estuário de Santos, localizado na região metropolitana da Baixada Santista, abriga o maior porto da América Latina e está sob a influência direta de descargas de resíduos industriais e domésticos dos municípios ao seu redor.

No entanto, uma descoberta que chamou a atenção dos pesquisadores foi o alto número de fibras incolores de tamanho entre 10 e 1 mil μm (micrômetros) encontradas na análise das ostras e dos mexilhões, além de compostos de celulose e acrílico, provavelmente vindos da poluição do estuário pelo lançamento de esgotos domésticos que contêm resíduos de lavagem de roupas.

"As fibras têxteis têm sido apontadas como o tipo mais comum de microplásticos encontrados em zonas com altos índices de ocupação urbana" disse Castro.

De acordo com os pesquisadores, o próximo será entender quando esse problema da contaminação começou, tanto em Santos quanto em outras cidades litorâneas, e como evoluiu ao longo do tempo, conforme as indústrias foram se instalando na região.

Contaminação versus poluição
Castro explica que embora frequentemente os termos sejam usados como sinônimos, contaminação é diferente de poluição.

"A gente só fala em poluição quando há um dano. O estudo não avaliou o dano, só a ocorrência. As pessoas usam como sinônimos, mas os termos têm significados diferentes"