"Bebendo meu bom drinque!": jovem morta baleada por PRF postou vídeo de jantar de comemoração
Segundo Alexandre Melo, viúvo da estudante, policiais dispararam dez vezes, momento em que Anne Caroline Nascimento da Silva foi ferida. Investigação é feita pela Polícia Federal
Horas antes de ser baleada, a estudante Anne Caroline Nascimento da Silva, de 23 anos, postou um vídeo no jantar de comemoração aos sete anos de relacionamento com Alexandre Mello. O casal foi a um bar em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, na noite do último sábado.
Na volta, quando passavam pela Rodovia Washington Luiz (BR-040), na altura do Parque das Missões, o carro onde os dois estavam foi atingido por cerca de dez tiros. Os disparos partiram de agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF), após uma ordem de parada. Um deles foi preso e liberado após passar por audiência de custódia.
A publicação de Anne foi feita às 19h41. No vídeo, a jovem aparece feliz e diz: “Bebendo meu bom drink”. O momento foi divulgado por uma amiga da estudante, que lamenta a morte. Pouco mais de duas horas depois da divulgação do conteúdo, no retorno do restaurante, Anne foi atingida por um tiro na cintura.
Nesta segunda-feira, antes do enterro de sua companheira, o viúvo, Alexandre Mello, lamentou a morte de Anne: “Por que, Deus?”, disse.
'Não quero morrer'
"Ele nos conta que ela estava consciente quando foi atingida na cintura pelo tiro. Ela chorava e dizia 'não quero morrer'. Cremos que ela ainda chegou com vida ao hospital, mas desacordada. Enterraram o sonho da minha sobrinha. Estamos todos muito abalados, sem chão. O Alexandre está inconformado, quer justiça, chora o tempo todo", conta Janete Bezerra, tia de Anne.
Anne e o viúvo haviam saído de casa, no Parque das Missões, por volta das 19h de sábado. Os dois foram a um restaurante para comemorar os sete anos de relacionamento. Na volta para casa, o carro em que estavam, um Jeep Renegade, foi abordado por agentes da PRF.
À família da vítima, o viúvo de Anne contou que chegou a dar seta e, quando ele se preparava para parar numa agulha da pista, o veículo foi alvejado por dez tiros. Apenas a jovem foi atingida. Alexandre trabalha recolhendo óleo de cozinha de restaurantes, para reciclagem, segundo Janete.
Após ser atingida, Anne foi levada por Alexandre, com a ajuda dos policiais, para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha, mas já chegou lá sem vida. A abordagem foi na Rodoviária Washington Luiz, sentido Baixada Fluminense, na altura do quartel do Corpo de Fuzileiros Navais.
O velório de Anne está marcado para a tarde desta segunda-feira, no Memorial do Rio, em Cordovil, Zona Norte do Rio.
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Segunda vítima
Outra mulher foi baleada na Rodovia Washington Luiz também na noite de sábado. Claudia Maria da Silva Santos, de 54 anos, foi ferida enquanto voltava de uma festa, por volta das 22h30, próximo ao acesso à Linha Vermelha.
— Ouvimos vários tiros e ficamos assustados. Assim que olhei para a Claudia, ela me disse haver sido baleada. Ela estava com a mão no peito e me pediu para levá-la ao hospital. Quando ela tirou a mão, saiu muito sangue. Na hora, pensei que tinha perdido a minha mulher — conta Vitório.
Claudia caiu desacordada no ombro de Vitório, que conseguiu interceptar uma ambulância do Samu que passava pelo local para pedir ajuda. Ela foi levada para o Hospital Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, onde segue internada no CTI.
Segundo boletim da Prefeitura de Duque de Caxias, divulgado na manhã desta segunda-feira, Claudia “apresentou sangramento intenso em decorrência do trauma, com necessidade de hemotransfusão de emergência e droga vasoativa, por conta de hipotensão por choque hipovolêmico”. Foi feita, imediatamente, a drenagem do tórax dela. Ainda segundo o boletim, foi “verificado em tomografia hemopneumotórax à esquerda, com extensa consolidação pulmonar; além de fratura de arco costal posterior e enfisema subcutâneo em região anterior e posterior”.
De acordo com a direção do hospital, “no momento, a paciente se encontra estável hemodinamicamente, mas potencialmente grave”.
A Polícia Federal está investigando a relação entre as ocorrências.