Reino Unido

Deputados britânicos sancionam Boris Johnson por mentir para o Parlamento

Os opositores de Johnson esperam cortar assim os laços com o polêmico político de cabelo desalinhado

A líder da Câmara dos Comuns da Grã-Bretanha, Penny Mordaunt, encerra o debate sobre as conclusões do relatório do Comitê de Privilégios sobre se o ex-primeiro-ministro Boris Johnson enganou o parlamento - PRU / AFP

Os deputados britânicos aprovaram, nesta segunda-feira (19), o relatório segundo o qual o ex-primeiro-ministro Boris Johnson mentiu deliberadamente sobre as festas ilegais celebradas durante os confinamentos na pandemia, em uma tentativa de virar a página de um escândalo bastante prejudicial para o Partido Conservador.

O longo debate parlamentar aconteceu no dia em que o ex-líder conservador completou 59 anos e resultou em uma sanção disciplinar sem muitas consequências: Johnson viu-se privado de seu passe parlamentar, o que o impede de acessar o recinto de Westminster, um privilégio simbólico oferecido aos ex-legisladores.

Em uma Câmara baixa de 646 membros ativos, mas com muitos ausentes, 354 deputados votaram a favor e apenas 7 votaram contra às recomendações do "comitê de privilegiados" sobre o escândalo do "partygate", cujas conclusões reacenderam as divisões entre os deputados conservadores.

Os opositores de Johnson esperam cortar assim os laços com o polêmico político de cabelo desalinhado.

Mas outros seguem defendendo-o e previram que ele voltará à disputa eleitoral, aproveitando-se da perda de popularidade de seu sucessor, Rishi Sunak, que prometeu devolver a integridade política ao governo, mas está afundado em uma histórica crise pelo custo de vida que não consegue conter.

Ao invés de se opôr ao relatório, o ex-primeiro-ministro pediu a seus partidários que se abstivessem e muitos deputados conservadores se ausentaram da sessão.

Sunak não participou da sessão, o que lhe rendeu muitas críticas da oposição.

A ex-primeira-ministra Theresa May anunciou que votaria contra Johnson - que foi seu chanceler e sucessor - e instou seus companheiros a fazerem o mesmo para "ajudar a restaurar a confiança em nossa democracia parlamentar".

"Minar o processo parlamentar"
Depois de se destacar como um dos artífices do Brexit a partir do referendo de 2016, Johnson obteve, em dezembro de 2019, a maior vitória eleitoral do Partido Conservador em décadas.

Contudo, após dois anos e meio e numerosos escândalos, viu-se obrigado pelo próprio partido a renunciar como primeiro-ministro em julho do ano passado.

O Parlamento designou uma comissão para investigar se ele tinha mentido deliberadamente aos deputados quando afirmou que as regras anticovid impostas por ele mesmo durante os confinamentos de 2020 e 2021 sempre foram respeitadas.

O resultado foi demolidor. O relatório estabeleceu que Johnson cometeu "desacato reiterado" ao Parlamento e tentou "minar o processo parlamentar". "Não há precedentes de ter descoberto que um primeiro-ministro mentiu deliberadamente à Câmara", diz o texto.

Em 9 de junho, antes de que essas conclusões fossem tornadas públicas, Johnson renunciou ao cargo de deputado, denunciando uma armação política de seus detratores.

Frustrou assim a recomendação da comissão parlamentar de suspendê-lo por 90 dias, o que o levaria a uma humilhante disputa eleitoral para tentar uma improvável reeleição em seu distrito.

Em seguida, a comissão apenas pôde recomendar aos deputados que ele perdesse o passe parlamentar.

Retorno à política
Sunak e seu governo esperavam virar a página do "partygate".

Mas seus esforços foram prejudicados no domingo com o vazamento aos meios de comunicação de um novo vídeo em que aparecem dirigentes do Partido Conservador dançando durante uma festa em dezembro de 2020, em pleno confinamento contra o coronavírus.

São imagens "terríveis" e "indefensáveis", reconheceu para a BBC Michael Gove, um dos principais ministros de Sunak.

Por sua vez, Jacob Rees-Mogg, um dos mais ferrenhos defensores de Johnson, prevê que o ex-primeiro-ministro voltará à disputa eleitoral nas legislativas previstas para daqui um ano e meio.

Por ora, o polêmico político conservador, que está prestes a ser pai pela oitava vez, voltou ao jornalismo, que era sua profissão antes de se dedicar à política.

Ele fechou um acordo com o jornal sensacionalista Daily Mail para escrever uma coluna semanal.

Segundo o site americano Politico, Johnson receberá várias centenas de milhares de dólares anuais por seus textos no tabloide, que vão se somar aos milhões que ele vem faturando com palestras desde que deixou o poder.