SELEÇÃO BRASILEIRA

Por que a CBF escolheu esperar mais de 500 dias por Ancelotti

Avaliação de atletas e ex-jogadores, como Ronaldo e Kaká, pesaram, assim como falta de opções

Carlo Ancelotti, treinador do Real Madrid - Javier Soriano / AFP

O acerto verbal entre a CBF e o técnico Carlo Ancelotti deixará a seleção brasileira sem o seu principal comandante por 540 dias, até junho de 2024, quando há certeza de que o italiano deixará o Real Madrid.

Embora não haja qualquer posicionamento das três partes envolvidas na negociação, a CBF trata a contratação como fechada, mesmo que ainda precise finalizar a parte contratual, e que dependa da boa vontade do clube espanhol para que a transição seja acelerada.

Mas por que esperar? Diversas perguntas ainda estão sem resposta. Não existe ainda a definição de quem comandará o Brasil por tanto tempo, durante oito jogos, seis deles de Eliminatórias. Ramon Menezes indicou que o amistoso de hoje contra Senegal, às 16h, pode ser seu último jogo como interino. E a CBF precisará de um técnico no mínimo até janeiro. Mas todos só pensam no presente.

— A pergunta é inevitável. Mas eu tô muito focado no jogo com Senegal. Não posso falar do "se". Quero ajudar muito a seleção brasileira. O presidente vai saber o que fazer. Quero concentração 100% no meu trabalho — despistou Ramon, que precisará se voltar para as Olimpíadas que acontecem na França no ano que vem, mas antes deixará um relatório de seus três jogos.

Aceitação e falta de opções
Tirar um técnico de clube brasileiro está fora de cogitação neste momento. A CBF também descartou nomes especulados até aqui de fora do Brasil. E já deu o recado aos jogadores da seleção que Ancelotti tem um acordo para assumir em 2024. Não houve contestação, pelo contrário. A boa relação do técnico do Real Madrid com uma série de atletas, sobretudo da nova geração, pesou a favor da escolha. No processo de convencimento da CBF, houve o auxílio de nomes como Ronaldo e Kaká, ex-jogadores que trabalharam com o treinador.

 

Em entrevista ao jornal espanhol “AS”, Ednaldo deu mais sinais sobre o acordo e sua motivação, que passa muito pela falta de alternativas de peso, não só de nomes, mas também de trabalhos e títulos.

— Quando os jogadores que jogam com Ancelotti dizem que ele é o treinador ideal, quando os que jogaram com ele dizem o mesmo e os que ainda não jogaram com ele querem jogar porque é o treinador certo, tenho que acreditar que ele é. Agora ele é o treinador perfeito para a seleção — afirmou o mandatário da CBF.

Quando Ancelotti chega e quem fica até lá
Ancelotti terá o papel de indicar com quem vai querer trabalhar na seleção. Nesse momento, o cargo de um diretor está descartado, pois o próprio presidente Ednaldo Rodrigues já faz a interlocução com o técnico e tem sido atuante como chefe de delegação. O filho de Ancelotti, Davide, seria uma possibilidade como interino, mas ela foi descartada, pois todo cuidado é pouco na relação com o Real Madrid.

A CBF agora espera a boa vontade dos espanhóis ao longo do processo para que, quem sabe, Ancelotti chegue mais cedo. O presidente Ednaldo Rodrigues tomou todo o cuidado de comunicar ao clube espanhol o acerto com o treinador, e Ancelotti também precisará fazer o mesmo quando se apresentar em julho para a pré-temporada. Até aqui, ele rechaçou a possibilidade de deixar a equipe antes do fim do contrato. A aposta da CBF é que até janeiro de 2024 o Real se convença de que é mais vantajoso iniciar um outro projeto com outro treinador em vez de fazer isso ao fim da passagem de Ancelotti em junho. Com isso, a entidade teria uma lacuna menor sem o novo comandante. Se conseguir abreviar a chegada para janeiro do ano que vem, o técnico italiano se apresentaria à seleção de imediato.

Em janeiro Ancelotti precisará comunicar ao Real Madrid que não exercerá a cláusula de renovação contratual, seis meses antes do fim do vínculo, quando estará livre para assinar outro termo. No momento o treinador ainda não pode ter nenhum papel assinado com a CBF, que confia no que foi conversado com o italiano em diversos encontros na Europa desde fevereiro, quando o acerto verbal se deu de fato.