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Ginecologista preso no Paraná tentou hipnotizar vítima para cometer abuso; entenda

Segundo acusações, violação ocorria dentro do consultório; ao GLOBO, fundadora do Instituto Brasileiro de Hipnose explica a técnica

Ginecologista Felipe Sá, de 40 anos, é investigado por violação sexual, importunação sexual e estupro de vulnerável - Reprodução / Redes sociais

Um médico ginecologista obstetra foi preso na última quinta-feira, no Paraná, suspeito de abusar sexualmente de pacientes. Ao todo, quinze mulheres procuraram a polícia até o momento — e, entre as denúncias, há relatos de que Felipe Sá, de 40 anos, usava hipnose para tentar facilitar o assédio.

Ao Globo, a psicológa Clystine Abram, fundadora do Instituto Brasileiro de Hipnose, disse que é improvável que a técnica seja bem-sucedida em tentativas de crimes deste tipo. No entanto, ela ressaltou que, embora a prática da hipnose seja legalizada entre profissionais da área de saúde, é preciso ter cautela, já que nem todos possuem formação adequada.

— Médicos podem usar a hipnose, já que é algo regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina — explicou. — Mas também podem usar isso para sugerir que façam algo que desejam. Um caso possível na sugestão hipnótica é, por exemplo, fazer uma pessoa tirar a roupa. Depende muito de como é falado. É possível fazer a pessoa achar que não há nada demais.

Entenda o caso
Em depoimento ao Fantástico, uma das mulheres atendidas por Felipe descreveu o momento em que percebeu a alteração no comportamento do médico. Segundo ela, tudo começou quando ele pediu para que ela fechasse os olhos e imaginasse estar “em um lugar paradisíaco”. Em seguida, contou até dez e estalou os dedos.
 

— Mas em nenhum momento eu estava hipnotizada, eu estava em sã consciência. Ele falou: ‘se imagine tendo relações sexuais só com coisas que estejam dentro dessa sala’. Aí ele começou a pegar pesado, [falar coisas] do tipo: ‘você se tocaria agora?’ — relatou a mulher.

Ainda de acordo com a paciente, Felipe dizia que ela poderia ficar à vontade. Ele afirmava ser “profissional o suficiente para poder separar as coisas”, e completava: “não vou ficar excitado”. O médico insistia para que a mulher se tocasse e tirasse a blusa.

Formado em medicina pela Universidade Federal de Goiás, Felipe Sá é especialista em ginecologia e obstetrícia e mestre em saúde pública pela Universidade de São Paulo. De acordo com Dimitri Tostes Monteiro, delegado que investiga o caso, foi feito um “estudo bem amplo” sobre a vida acadêmica dele, mas não foram encontrados quaisquer cursos “envolvendo a hipnologia”.

A hipnose
Segundo definição da Associação Americana de Psicologia (APA, em inglês), a hipnose é um procedimento no qual um profissional de saúde ou pesquisador sugere, ao tratar alguém, “que o paciente experimentará mudanças nas sensações, percepções, pensamentos ou comportamentos”.

— A própria Organização Mundial de Saúde diz que a hipnose atua dentro dos transtornos psiquiátricos e psicológicos, fazendo com que a pessoa possa ter benefícios emocionais, físicos e psicológicos — disse Clystine. — Além disso, o recurso também é utilizado na medicina.

Apesar do caso de Felipe, a ideia de que a hipnose é capaz de controlar mentes e obrigá-las a fazer coisas ruins é mito. Ainda segundo a psicóloga, quem passa por uma sessão não fica inconsciente: todos continuam ouvindo e acompanhando o processo da terapia.

— E, caso as sugestões infrinjam normas éticas e morais dos pacientes, a pessoa não aceita — ressaltou a psicóloga.