Copom deve manter Selic nesta quarta (21) e abrir espaço para queda dos juros em agosto
Reunião do Banco Central é vista como uma das mais importantes do ano e pode representar uma mudança na condução da política monetária
O Banco Central deve manter nesta quarta-feira (21) a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano. A expectativa entre economistas, no entanto, é por uma sinalização sobre o início do ciclo de cortes, que poderia acontecer já na reunião de agosto.
O BC não vem apresentando surpresas nas últimas decisões do Copom e, se confirmada, será a 7ª manutenção consecutiva da taxa de juros. No Ministério da Fazenda, a redução da Selic é vista como essencial para a retomada sustentável do crescimento da economia.
Unanimidade
Embora as críticas da ala política do governo sejam personalizadas à figura do presidente do BC, Roberto Campos Neto, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) é tomada com os votos de oito diretores e está seguindo uma trajetória de unanimidade
A exceção mais recente foi em setembro do ano passado. Os diretores Fernanda Guardado (Assuntos Internacionais) e Renato Gomes (Sistema Financeiro) votaram pela elevação de 0,25 ponto percentual, enquanto a maioria decidiu pela manutenção da taxa de 13,75% - neste patamar desde agosto.
Diretoria
Esse histórico de decisões unânimes pode ser interrompido em breve. Gabriel Galípolo, agora ex-secretário-executivo da Fazenda, foi nomeado por Lula para assumir a diretoria de política monetária do BC - que tem destaque em direcionar o debate sobre a Selic.
Ailton dos Santos também foi indicado pelo governo e deve ser o novo diretor de Fiscalização. A sabatina dos dois no Senado será no dia 27 e a expectativa é que na reunião de agosto eles já estejam na cúpula do BC.
Logo após o anúncio do seu nome, em maio, o ex-número 2 da Fazenda argumentou que "seria estranha" a indicação de alguém desalinhado ao governo para o BC.
Cenário fiscal
No comunicado mais recente, em maio, o Banco Central falou sobre a incerteza “ainda presente” sobre o desenho do arcabouço fiscal, que ainda não havia sido aprovado na Câmara.
Apesar de não haver, na visão do BC, uma relação direta entre a aprovação da regra fiscal e eventual queda nos juros, a proposta já vem apresentando resultados positivos nas expectativas sobre as trajetórias da dívida pública e da inflação. Esse é um dos movimentos que abrem margem para possíveis sinalizações positivas do BC:
— Há uma melhora do quadro fiscal, com a nova regra sendo rapidamente votada na Câmara e com expectativas positivas de aprovação no Senado, incluindo mudanças apenas marginais em sua estrutura inicial. Isso deve ser um vetor positivo a ser reconhecido no comunicado desta quarta-feira — avalia Matheus Pizzani, economista da CM Capital.
Já o diretor de Alocação e Distribuição da InvestSmart, André Meirelles, também cita a melhora na projeção de inflação monitorada pelo Boletim Focus - a partir de sinais de arrefecimento do nível de preços.
— O corte de juros precisa ser sustentável. Para tal, é necessário que vejamos melhorias estruturais na economia brasileira, capazes de impactar positivamente a expectativa de inflação. O novo arcabouço fiscal é uma mudança estrutural que mostrou ter efeito sobre as expectativas — diz Meirelles.
Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, vê uma queda de 0,50 pontos em agosto na taxa de juros, seguida de reduções consecutivas até 12,50% no final do ano.
— Os motivos para vermos espaço para uma redução agora vão desde os dados de atividade que mostram uma demanda muito fraca, como fica comprovado pela contribuição negativa da absorção interna para o PIB do 1º trimestre, até os números da inflação corrente e das expectativas de inflação em clara tendência de desaceleração — cita.