Guerra

Ucrânia reconhece que não conseguiu dissuadir defesas russas em sua contraofensiva

Após duas semanas de combates, tropas ucranianas recuperaram 113 km2, enquanto em uma única semana de setembro avançaram 3.800 km2 em Kharkiv

Militares ucranianos montam em um veículo blindado de transporte de pessoal na região de Zaporíjia - Anatolii Stepanov/AFP

Os dados são contundentes: mostram que, na atual contraofensiva nas regiões de Zaporijía (sul) e Donetsk (leste), as forças de Kiev estão ganhando terreno em um nível infinitamente menor do que na operação realizada em setembro em Kharkov (nordeste). Isso significa, como reconhece o próprio governo ucraniano, que os invasores russos resistiram ao impulso das tropas locais, que continuam avançando a duras penas após as duas primeiras semanas de operação militar.

O Kremlin, de acordo com Kiev, concentra o grosso de seus soldados no leste, enquanto mantém seus ataques de longa distância contra pontos em todo o país. Na madrugada de terça-feira, mísseis e drones-bomba atingiram Kiev, Lviv e Zaporíjia, embora não tenham causado vítimas mortais.

— O inimigo lançou todas as suas forças para deter a ofensiva — confirmou a vice-ministra da Defesa ucraniana, Hanna Maliar, na terça-feira, em rede nacional. — Ele não vai desistir facilmente e devemos nos preparar para o fato de que será uma batalha dura. Exatamente o que está acontecendo agora.

Em todo o caso, Maliar defende o papel dos militares ucranianos, dá a entender que os acontecimentos não estão se desenrolando de forma extraordinária e garante que o seu exército ainda não desferiu o grande golpe.

— Em algumas áreas, nossos combatentes estão avançando, em outras, estão defendendo suas posições e resistindo aos intensos ataques dos ocupantes. Não perdemos posições. Nós apenas as liberamos. Eles só têm prejuízos — comentou o presidente, Volodymyr Zelensky, em discurso na segunda-feira.

Sem dar atenção às informações que lhes chegam dos mais altos escalões do governo, um grupo de uma dezena de homens fardados assistiu a um treinamento ao meio-dia de terça-feira. Em um campo de tiro na periferia da cidade de Zaporíjia, um colega os ensinava a atirar com uma arma nova para eles, um lançador de granadas. Um drone monitorava a área para evitar a presença de vacas ou pastores ao redor enquanto, um a um, eles iam atirar.

Ciente do escasso terreno recuperado dos invasores, Maliar afirmou que “não é necessário medir o resultado do trabalho das forças de defesa exclusivamente pelos povoados e quilômetros percorridos, porque há muito mais critérios para a eficácia das operações militares”. Além disso, em seu discurso, defendeu o papel que seus homens estão desempenhando.

— A operação em andamento tem várias tarefas e os militares estão cumprindo essas tarefas. Eles se movem como deveriam se mover. E o grande golpe ainda está por vir — declarou.

No entanto, há frentes como Kupiansk, na região de Kharkov, e Liman, em Donetsk, em que “o inimigo avança e nós estamos na defensiva”, reconhece a vice-ministra.

Após a primeira semana da contra-ofensiva de setembro na região norte de Kharkov, Maliar informou que eles conseguiram ganhar 3.800 km2 apenas naquela região. Agora, depois de duas semanas de campanha em Zaporíjia e Donetsk, a vice-ministra anunciou na segunda-feira que o total das reconquistadas ascende a 113. É verdade que a contra-ofensiva em curso está há meses anunciada pela Ucrânia e que tem permitido à Rússia fortificar as suas posições. Uma densa rede de trincheiras, arame farpado, obstáculos contra tanques e veículos blindados e campos minados aguardam os ucranianos em seu avanço por centenas de quilômetros.

— Apesar de nossas tropas estarem avançando em vários pontos do sul, o inimigo concentra grande parte de seus esforços no leste e continua avançando nesta região porque, para o inimigo, a principal direção de ataque está lá, porque o agressor não abandona o objetivo de conseguir [controlar] as fronteiras das regiões de Donetsk e Luhansk — acrescentou a vice-ministra, encarregada de anunciar os resultados da contra-ofensiva.

Enquanto isso, a Rússia mantém seus bombardeios em diferentes regiões da Ucrânia mais ou menos longe das frentes de batalha. Na madrugada de terça-feira, lançou um ataque aéreo com drones-bomba e mísseis contra várias cidades, incluindo Kiev, a capital, Lviv (no oeste, perto da fronteira polonesa) e Zaporíjia (sul). Os militares ucranianos disseram que conseguiram abater 28 drones modelo Shahed de fabricação iraniana de 30 lançados. Um deles atingiu instalações de "infraestrutura crítica" que as autoridades não detalharam.

Em Zaporíjia os alarmes também soaram durante as primeiras horas da manhã, como em boa parte do país. Depois da meia noite, várias detonações importantes foram ouvidas, como o El País pôde verificar. A administração militar relatou um ataque com pelo menos sete mísseis S-300. As defesas antiaéreas locais também abateram três drones na província de Mikolaiv, no sul da Ucrânia. Nesta mesma região está localizada a maior usina nuclear da Europa, que permanece nas mãos dos ocupantes desde o início da invasão em grande escala em fevereiro de 2022. Acredita-se que essas instalações tenham sido minadas pelos militares russos, disse na televisão estatal na terça-feira o principal chefe da inteligência militar, Kirilo Budanov.

Na região de Kherson, uma pessoa morreu após um ataque a uma equipe que limpava uma das áreas afetadas pelas enchentes após a explosão da barragem de Nova Kakhovka, informou a comitiva do presidente Zelensky. Por seu lado, a Rússia denunciou um ataque de drone ucraniano contra a cidade de Nova Kakhovka, ocupada pelas forças do Kremlin, que resultou em três feridos, segundo a agência oficial de notícias Tass.