Trabalho Forçado

Volks, BMW e Mercedez são acusadas na Alemanha por uso de trabalho forçado na China

ONG apresenta queixa formal ao governo, no primeiro grande caso após nova lei que exige que empresas do país monitorem direitos humanos e respeito ao meio ambiente

três principais montadoras alemãs estão entre as empresas que mantêm relações de fornecimento com fábricas que apresentaram sérios indícios de envolvimento em trabalho forçado. - AFP

A VolksWagen, a BMW e a Mercedez Benz estão sendo acusadas na Alemanha de utilizarem trabalho forçado na cadeia de produção de seus automóveis. A prática teria ocorrido em fábricas de fornecedores de componentes, como baterias, localizadas na província chinesa de Xinjiang, região ocupada pela minoria muçulmana uigur onde há anos há relatos de desrespeito a direitos humanos.

O Centro Europeu de Direitos Constitucionais e Humanos (ECCHR), uma organização sem fins lucrativos com sede em Berlim disse ter oficializado a queixa ao Escritório Federal Alemão de Economia e Controle de Exportação (BAFA), um órgão do Ministério de Economia e Energia.

A acusação é uma das primeiras contra empresas alemãs após a entrada em vigor de uma lei, no início deste ano que prevê que grandes empresas do país garantam o respeito aos direitos humanos e ao meio ambiente em toda a sua cadeia de produção. As punições podem chegar a 2% do faturamento anual e até a exclusão das companhias de contratos governamentais por até três anos.

As três principais montadoras alemãs estão entre as empresas que mantêm relações de fornecimento com fábricas que apresentaram sérios indícios de envolvimento em trabalho forçado, segundo a queixa.

A queixa é apoiada pelo Congresso Mundial Uigur (WUC) e pela Associação de Acionistas Éticos da Alemanha. De acordo com comunicado do ECCHR , até o momento as empresas não apresentaram documentos que comprovem que estão respondendo adequadamente ao risco de trabalho forçado.

Um relatório da Organização das Nações Unidas apontou que o governo chinês submete os uigures a repressão e trabalhos forçados. Uma pesquisa feita pela Sheffield Hallam University e pela NomoGaia documentou que toda a cadeia de suprimentos automotivos na região de Xinjiang é afetada pelo trabalho forçado.

As denúncias contra a Mercedes-Benz e a BMW, informou o Financial Times, são relacionadas a alguns fornecedores diretos e indiretos que operam nas proximidades de Xinjiang. O ECCHRO destacou também o relacionamento das montadoras com a fabricante chinesa de baterias CATL, que já começou no ano passado a expandir sua presença em Xinjiang.

O jornal britânico informou que as montadoras enfrentam agora não só pressões a nível nacional, mas também em outros países, "à medida que uma onda de grupos de defesa começa a abrir processos judiciais em tribunais europeus sobre produtos fabricados em Xinjiang." A FT disse que os EUA, por exemplo, proibiram as importações do território.

Procuradas pelo Financial times, a Volks, BMW e Mercedes-Benz não quiseram comentar e afirmaram que "ainda não haviam sido contatadas pelos reguladores alemães."

A Mercedes-Benz acrescentou que, quando há preocupações como essas, a montadora pressiona os fornecedores. Já a BMW disse estar monitorando a "conformidade" dos fornecedores com seus padrões e investigando “consistentemente” possíveis violações.

A CATL não respondeu aos pedidos de comentários do FT.