Submarino

Submarino desaparecido: Sete falhas da fabricante na viagem rumo ao Titanic

Operação de resgate de expedição continua apesar da escassez de oxigênio no submersível

Submersível Titan sendo rebocado para um local de mergulho em Everett, Washington - AFP PHOTO / OceanGate Expeditions

O desaparecimento do submersível Titan, da empresa OceanGate Expeditions, foi precedido por uma série de erros e condutas imprudentes por parte da fabricante. A embarcação está desaparecida desde domingo e equipes internacionais de busca criaram uma força-tarefa que luta contra o tempo para tentar localizar com vida os cinco ocupantes da nave aquática. A projeção era que o oxigênio disponível duraria 96 horas, prazo que acabou às 6h desta quinta-feira.

Vejam os erros:

1 - Janela suportava pressões de até 1,3 mil metros
Um ex-funcionário da OceanGate alertou para problemas de "controle de qualidade e segurança" do titan, em 2018. David Lochridge, então diretor de operações marítimas da empresa, apontou em um relatório que os passageiros do submersível correriam perigo conforme o veículo atingisse temperaturas mais profundas por conta da pressão sobre a estrutura do veículo marinho.

Lochridge afirmou que a janela de visualização do Titan tinha certificação para aguentar pressões de até 1,3 mil metros. A intenção da OceanGate era levar seus passageiros até o naufrágio do Titanic, cujos destroços estão situados a 3,8 mil metros de profundidade.

2 - Não possui GPS e é orientado por mensagens
O repórter David Pogue, da rede de televisão americana CBS News, participou da viagem exploratória ao Titanic com o submersível da OceanGate, no ano passado. Na reportagem, o jornalista mostra que a nave aquática não possui GPS e é guiada por mensagens de texto enviadas de um barco que fica na superfície da água.

3 - Controle de videogame
Com as coordenadas recebidas por mensagens de texto, o comandante do Titan - que é o CEO e fundador da OceanGate, Stockton Rush - pilota o submersível. Para isso, ele usa um equipamento adaptado.

— Isso vai soar estranho para muitas pessoas, mas muito deste submersível é feito de peças improvisadas que estão prontas para uso. Por exemplo, você o pilota com um controle de videogame — disse Pogue.

Trata-se de um modelo adaptado do Logitech F710. O controle de videogame foi lançado em 2011 e, atualmente, pode ser encontrado em sites que vendem produtos de segunda mão, com preços a partir de R$ 175.

Na reportagem da CBS, o controle aparenta ter sido modificado, com botões alongados para facilitar o controle do submersível. O repórter então comenta:

— Parece que este submersível tem alguns elementos do MacGyver — diz.

— Não sei se usaria essa descrição — responde Rush.

4 - Carta com alerta de especialistas
A OceanGate ignorou o alerta feito por meio de uma carta assinada por 38 empresários, exploradores de águas profundas e oceanógrafos, em 2018. O documento foi enviado a Rush expressando "preocupação unânime" com a "abordagem 'experimental' adotada", que poderia acarretar "resultados negativos (de menores a catastróficos) com sérias consequências para todos".

A carta recomendava a realização de mais testes e enfatizava "os perigos potenciais para os passageiros do Titan quando o submersível atingir profundidades extremas".

A OceanGate se queixou, por meio de um texto não assinado em seu site, que o Titan era tão inovador que poderia levar anos para ser certificado conforme as normas usuais das agências de avaliação.

Rush também minimizou os protocolos de segurança, durante uma entrevista ao podcast do jornalista David Pogue. O CEO da OceanGate disse que havia um "limite" para a segurança.

— Você sabe, em algum momento, a segurança é apenas puro desperdício. Quero dizer, se você só quer estar seguro, não saia da cama, não entre no seu carro, não faça nada. Em algum momento, você vai correr algum risco, e é realmente uma questão de risco-recompensa — afirmou.

https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2023/06/seguranca-e-desperdicio-disse-fabricante-do-submarino-perdido-em-expedicao-ao-titanic.ghtml

5 - Problemas técnicos em expedições anteriores
Pogue também testemunhou a ocorrência de problemas técnicos durante a expedição que participou, com a OceanGate, para visitar o Titanic. Na ocasião, o Titan ficou duas horas e trinta minutos sem comunicação, após submerso.

— Neste mergulho, as comunicações de alguma forma foram interrompidas. O submarino nunca encontrou os destroços — disse Pogue, na reportagem.

— Estávamos perdidos — comentou Shrenik Baldota, magnata da indústria indiana que também participou da expedição. — Ficamos perdidos por duas horas e meia — acrescentou.

6 - Lançado de águas internacionais
Um dos signatários da de 2018, o engenheiro mecânico e pesquisador Bart Kemper, que trabalha em projetos de submarinos, afirmou em uma entrevista que a OceanGate evitou ter que cumprir os regulamentos dos EUA.Para isso, a empresa levou o Titan para águas internacionais, onde as regras da Guarda Costeira americana não se aplicavam, segundo o jornal The New York Times.

7 - Embarcação experimental
Mais um trecho da reportagem de David Pogue viralizou na internet nesta semana, após o desaparecimento do Titan: o momento em que o jornalista assina um termo reconhecendo que o submersível era uma "embarcação experimental" que não havia sido "aprovada ou homologada por nenhum órgão regulador e [a viagem] poderia resultar em ferimentos, trauma emocional ou morte".