SAÚDE

Planos de saúde têm prejuízo operacional de R$ 1,7 bilhão no 1º trimestre

Ganhos com aplicações financeiras das empresas do setor garantiram, no entanto, lucro líquido de R$ 620,6 milhões no período

Plano de saúde - Marcello Casal Jr./Agência Brasil

O setor de planos de saúde registrou um prejuízo operacional de R$ 1,7 bilhão no primeiro trimestre deste ano, aprofundando a perda de R$ 1 bilhão de igual período de 2022, segundo dados divulgados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Esse número reflete o desencontro entre a receita obtida pelas empresas do setor com as mensalidades pagas pelos beneficiários ou empresas contratantes e os gastos assistenciais e relativos à operação dos planos.

O resultado final na assistência médico-hospitalar privada no período, contudo, foi positivo, com um lucro líquido de R$ 620,6 milhões, também inferior ao R$ 1 bilhão de um ano antes. É que as perdas operacionais acabam compensadas pelo crescente resultado obtido pelas operadoras com o rendimento de aplicações financeiras.

Nessa ponta, as companhias de planos de saúde somaram o volume recorde de R$ 2,5 bilhões em resultado financeiro, acima dos R$ 2,36 bilhões de janeiro a março de 2022.

Esse lucro de R$ 620,6 milhões puxa as contas para o azul com um certo aperto. Ele representa 0,95% da receita efetiva dos planos de saúde, informa a ANS.

"O problema do descasamento entre receita e despesa é muito claro. Este ano já começou pior que 2022. Há migração de beneficiários para planos mais baratos, e a despesa dos produtos está crescendo mais que a receita. A maior perda operacional vem de despesas mais elevadas", destaca Marcos Novais, superintendente executivo da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), que reúne 140 empresas do setor.

Despesas crescentes
Novais cita ainda o aumento das despesas com reembolsos e do uso das terapias continuadas (psicologia, terapia ocupacional e fisioterapia).

Em 2022, os planos de saúde registraram um prejuízo operacional de R$ 10,7 bilhões, um tombo ante os R$ 919 milhões negativos de um ano antes. No fechamento do primeiro trimestre deste ano, essa perda acumulada em 12 meses, ficou em R$ 11,2 bilhões.

A agência reguladora destaca o aumento da sinistralidade, que é o percentual de receitas com mensalidades gasto com assistência, como fator pressionando para baixo o resultado das operadoras. No primeiro trimestre, alcançou 87,2%, 1,2 ponto percentual acima da apurada em igual período de 2022.

O resultado dos três primeiros meses de 2023 vieram abaixo do esperado pela Abramge, afirma Novais. A entidade estimava uma perda menor do que a registrada em igual período do ano passado.

"Estamos reajustando mensalidades tanto dos planos individuais quanto dos corporativos. Então, surpreende o resultado operacional estar piorando. É uma sinalização ruim para o resultado do ano como um todo porque o primeiro e o quarto trimestre são, habitualmente, os melhores", diz o superintendente executivo da Abramge.

Luiz Feitosa, sócio-diretor da consultoria Arquitetos da Saúde, avalia que é cedo para cravar que o resultado anual será pior. Mas sublinha que é preciso olhar com atenção para o cenário que se desenha:

"Que bom que houve lucro, mas não é uma boa notícia porque o resultado positivo vem das aplicações financeiras. É um pequeno alívio, mas é preciso resolver o nó trazido pelo downgrade dos planos de saúde. Isso está acontecendo há muito tempo, mas vem acelerando", alerta o especialista.

Os planos de saúde somam 50,5 milhões de usuários no país, ante 48,9 milhões no fim de 2022. Deste total, pouco mais de 17% estão em planos individuais e familiares. O restante está em planos coletivos empresariais ou por adesão.

Veja também: Fraudadores usam ANS para pressionar planos de saúde e conseguir reembolso maior; veja as irregularidades

Com o cenário econômico adverso, novos beneficiários estão entrando em contratos com mensalidades menores que as dos planos já em vigor. Esse movimento vem por esse “rebaixamento” de produtos, que têm preço mais baixo por serem mais restritos, com limitação regional ou cobrança de coparticipação do usuário, por exemplo.

Perdas de Amil e Unimed-rio
Feitosa destaca alguns fatores que pesam nessa direção. Um deles é o avanço dos planos voltados para pequenas e médias empresas com até cinco beneficiários. Em 2019, eles somavam 2,4 milhões de usuários. Em março deste ano já eram 4,2 milhões.

"Temos de arremeter esse avião. Cresce a opção pelos planos mais restritos. O resultado operacional das operadoras de planos de saúde está muito relacionado com essa queda de receita", explica ele.

Os maiores prejuízos, dentre as operadoras de saúde listadas pela ANS, foram os de Amil e Unimed-Rio.

A Amil teve resultado negativo de R$ 415,7 milhões, enquanto o prejuízo operacional alcançou R$ 650,5 milhões. Já a Unimed-Rio teve prejuízo de R$ 387 milhões, com perda operacional de R$ 334,2 milhões.

Procuradas, as duas empresas não comentaram