Cinco perguntas após a queda da rebelião de paramilitares na Rússia
Grupo paramilitar Wagner na Rússia provocou uma crise pior já enfrentada pelo presidente Vladimir Putin
A rebelião frustrada do grupo paramilitar Wagner na Rússia provocou uma crise pior já enfrentada pelo presidente Vladimir Putin desde sua chegada ao poder. Alguns pontos seguem sem resposta.
- Onde está Prigozhin? -
A última aparição do chefe do Wagner, Yevgueni Prigozhin, foi na noite de sábado, quando deixou, entre aplausos dos habitantes, a cidade russa de Rostov (sudoeste), de onde havia tomado o controle de um quartel militar.
O Kremlin assegurou que o líder dos paramilitares tinha "a palavra" de Putin para deixar o território russo até Belarus, país aliado de Moscou, e que não seria acusado criminalmente.
Nesta segunda-feira, contudo, uma fonte da Procuradoria-Geral russa, citada pelas três principais agências de notícias do país, afirmou que "o caso não havia sido encerrado, a investigação continua".
O blogueiro militar russo Michael Nacke acredita que Prigozhin instalará a base de Wagner na Bielo-Rússia e continuará as operações de seu grupo na África.
Porém, "Prigozhin se tornou um alvo extremamente vulnerável: pode ser preso, pode ser morto", disse à AFP.
- Qual o futuro do Wagner? -
Prigozhin lançou sua insurreição armada dias depois de Putin anunciar que os combatentes do Wagner deveriam assinar contratos com o Exército.
"Querem desmantelar o grupo", denunciou Prigozhin no sábado.
O Kremlin disse que os homens que seguiram seu líder na rebelião não seriam acusados criminalmente, em agradecimento a seus esforços na Ucrânia, ou, "se desejassem", que poderiam fazer parte do Exército.
Wagner afirmou nesta segunda-feira que sua sede principal, em São Petersburgo (noroeste), funcionava "com normalidade de acordo com a legislação da Federação Russa".
"O Wagner poderia ser desmantelado completamente ou mesmo absorvido" pelo Exército, estima Michael Kofman, especialista militar americano.
Segundo a analista independente russa Tatiana Stanovaya, "Putin não precisa do Wagner, ou de Prigozhin. Pode se virar com suas próprias forças. Agora está totalmente protegido".
- Quais as consequências para a cúpula militar? -
O objetivo oficial da rebelião de Prigozhin era a substituição do ministro da Defesa, Serguei Shoigu, e do chefe do Estado-Maior, Valeri Guerasimov.
Até o momento, Putin não anunciou nenhuma mudança na cúpula militar.
Imagens da televisão estatal russa nesta segunda-feira viram Shoigu inspecionando suas tropas na Ucrânia, em sua primeira aparição após a insurreição de 24 horas.
Guerasimov não apareceu em público até agora.
"Sob pressão (de Prigozhin), Putin não fará nada", estima no Telegram o cientista político pró-Kremlin Serguei Markov.
Para Rob Lee, do think thank americano Foreign Policy Research Institute, os últimos acontecimentos "dão a impressão de que Shoigu e Guerasimov eram fracos, mas também mostram até que ponto é importante para Putin ter pessoas leais encarregadas de seus serviços militares e de segurança" .
- Prigozhin atuou sozinho? -
Um fato é incontestável: os combatentes do Wagner conseguiram, em 24 horas, tomar o controle de parte de Rostov, com um milhão de habitantes, e se aproximar até 400 km de Moscou, ou até 200 km, segundo Prigozhin.
O líder de Wagner, que garantiu que tomou a base militar de Rostov "sem um único tiro", teve ajuda interna, como alguns pensam? Ou ao perceber que o cerco em torno de seu grupo estava fechando?
As declarações do primeiro chefe adjunto do serviço de Inteligência militar russo (GRU) levantaram dúvidas. Em um vídeo publicado no sábado, Vladimir Alekseyev insta os homens do Wagner a abandonarem sua rebelião, ao mesmo tempo que parece debochar de Shoigu e Guerasimov.
"Leve-os", disse com um gesto das mãos.
- Qual o impacto para a ofensiva na Ucrânia? -
O Kremlin assegurou que estava "fora de questão" afetando a ofensiva militar na Ucrânia com o motim.
Porém, o certo é que poderia impactar a moral dos soldados russos, segundo analistas, que enfrentaram ondas de ataques ucranianos há semanas.
O grupo Wagner representava uma das forças mais combativas nas presidiárias russas e estava na linha de frente da longa batalha de Bakhmut (leste da Ucrânia).
No terreno, porém, "desde (a tomada de) Bakhmut (em maio), o Exército dependeria menos de Wagner", afirma o analista militar Michael Kofman.
"O Wagner não era utilizado para a defesa no sul", uma das principais regiões nas quais as tropas de Kiev tentam avançar entre a defesa russa, afirma.