Para 59% dos brasileiros, população LGBTQIA+ deve ter maior representação na política, diz pesquisa
Levantamento feito pelo Instituto Ipsos, encomendado pela Fundação Luminate, aponta que Brasil está à frente de Argentina, México e Colômbia na defesa da diversidade nos espaços de poder
Para 59% dos brasileiros, a população LGBTQIA+ deveria ter uma representação maior na política. É o que aponta uma pesquisa inédita encomendada pela Fundação Luminate e realizada pelo Instituto Ipsos.
O Brasil lidera o ranking que defende o aumento do acesso desse grupo aos espaços de poder nos quatro países da América Latina que foram analisados. Ele é seguido por Argentina, com 55%, e Colômbia e México, ambos com 51%. O Dia do Orgulho LGBTQIA+ será celebrado nesta quarta-feira, 28 de junho.
O levantamento mostra ainda que 63% dos entrevistados no Brasil concordam total ou parcialmente que a diversidade de vozes — incluindo a pluralidade de identidades de gênero e sexualidades — é um aspecto essencial de uma democracia.
No recorte por sexo, as mulheres brasileiras formam o grupo que corresponde ao maior contingente de apoio ao incremento de pessoas LGBTQIA+ na política, com 65%. Já entre os homens, 53% são favoráveis.
Apesar de o Brasil liderar o ranking de violência contra transgêneros de acordo com a organização Transgender Europe, o país também foi o que se mostrou mais favorável a pessoas trans assumirem cargos público. Segundo a pesquisa, 57% dos brasileiros se disseram totalmente confortáveis, contra 49% na Argentina, 40% no México e apenas 37% na Colômbia.
Vice-Presidente da Luminate para a América Latina, Felipe Estefan analisa o resultado da pesquisa como um sinal de que esses países estão prontos "para virar completamente a página da exclusão política" dessa comunidade. No entanto, ele defende que, para as mudanças se darem em um ritmo mais satisfatório, é necessário que a sociedade combata as barreiras que impedem a população LGBTQIA+ de aspirar a uma carreira na política.
A principal delas ainda é a violência física e verbal dirigida a representantes desse grupo que se expõem em campanhas eleitorais. Além disso, há um estigma sistemático contra pessoas LGBTQIA+, o que torna a tarefa de buscar votos muito mais difícil.
— O contingente de líderes LGBTQIA+ em cargos eletivos têm crescido, mas a um ritmo mais lento do que deveria — avalia Estefan, apontando possíveis soluções: — Uma das mudanças necessárias é aumentar o número de candidaturas. Para isso, incentivos legais, regras para os partidos políticos e a distribuição equitativa dos recursos de campanha para candidaturas LGBTQIA+ são medidas concretas que encorajariam lideranças a se lançarem nas eleições.
Vinte eleitos em 2022
A pesquisa também perguntou aos entrevistados se eles acreditam que pessoas LGBTQIA+ contribuem com perspectivas únicas com os processos decisórios na política: 51% do eleitorado brasileiro expressaram concordância total, o maior resultado entre os países. Colômbia e México registraram 47%, e Argentina, 40%.
Nas eleições de 2022 no Brasil, segundo levantamento da Aliança Nacional LGBTI+, o grupo teve 356 candidaturas, com 20 eleitos. São 13 deputados estaduais, um deputado distrital, cinco deputados federais e a governadora do Rio Grande do Norte Fátima Bezerra (PT).
De acordo o presidente da Aliança Nacional LGBTI+, Toni Reis, esse avanço na ocupação de espaços na política é fruto de anos de esforços das redes nacionais de militância por mais direitos para este segmento.
— É uma questão de cultura e de mudança de comportamento. Hoje nós já temos uma bancada LGBTI+ no Congresso Nacional. Para quem não tinha absolutamente nada em 2000, agora já temos seis (cinco deputados eleitos em 2022 mais o senador Fabiano Contarato do PT) — avalia Reis, prevendo um futuro mais inclusivo: — Eu vejo que nos próximos vinte anos vamos estar muito bem.
A previsão otimista de Reis encontra lastro nos dados levantados pela pesquisa Ipsos. Entre jovens de 18 a 24 anos dos países, o Brasil é o que mais apoia a expansão da representação LGBTQIA+: 78%, contra 63% no México, 59% na Colômbia e 51% na Argentina.
A crença do eleitorado na igualdade entre representantes LGBTQIA+ e não LGBTQIA+ também é capturada pelos critérios de avaliação que a população afirma utilizar ao avaliar uma candidatura. Perguntadas sobre quais atributos seriam mais importantes em um eventual nome do segmento que concorresse à Presidência de seus países, as pessoas responderam competência (23%), profissionalismo (22%), ética (20%) e abertura ao diálogo (10%) — característica gerais e aplicáveis a qualquer candidatura.
Além disso, 73% do grupo pesquisado nos quatro países acreditam em alguma medida que pessoas LGBT+ e não LGBT+ são igualmente capazes de serem boas lideranças políticas, percentual semelhante ao do Brasil. E, apenas 20% da amostra latino-americana concordam total ou parcialmente que a orientação sexual expressa por uma candidatura deveria ser levada em conta na hora do voto.
A pesquisa Ipsos realizou 4,400 entrevistas via painel online (1.000 na Argentina; 1.200 no Brasil; 1.000 na Colômbia; e 1.200 no México), com pessoas acima de 18 anos. O levantamento foi realizado entre os dias 27 de abril e 12 de maio de 2023. A margem de erro é de 1,5 ponto percentual.