Aliados de Bolsonaro dizem não acreditar em versão de coronel sobre mensagens golpistas'
Jean Lawand negou ter pregado um golpe mesmo com mensagens indicando o contrário
A versão dada pelo coronel Jean Lawand Júnior em depoimento à CPI do 8 de janeiro não teve o endosso nem da bancada bolsonarista da comissão. Autor de mensagens com teor golpista contra a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, em um diálogo com Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, negou ter pregado um golpe.
De acordo com Lawand, ao mandar as mensagens para Cid a intenção era que Bolsonaro se manifestasse para "apaziguar" os manifestantes bolsonaristas que pediam uma intervenção militar e fazer com que eles saíssem das ruas e dos quartéis, onde estavam protestando.
Ainda que tenha acusado o militar de mentir diretamente, o deputado André Fernandes (PL-CE) pôs a versão em dúvida.
– Sendo bem honesto, não acredito muito no que o senhor falou aqui, mas também não posso dizer que é mentira. Se alguém quiser acreditar, que acredite – declarou. Fernandes disse ainda que não estava na comissão para " defender militar", mas "para apurar a verdade".
Da mesma forma, o senador Marcos Rogério (PL-RO) declarou que "o papel da oposição não é defender depoente, não é defender quem cometeu crimes".
O senador Sergio Moro (União-PR) foi outro a criticar as falas do militar.
– Coronel, eu também não estou convencidos de suas explicações, com todo respeito, sobre as mensagens. Entendo que quando fazem perguntas de cunho acusatório, (as respostas dadas por Lawand são) uma tentativa de autoproteção, do direito do silêncio ou até mesmo um encobrimento da total verdade sobre os casos.
A avaliação da oposição e da bancada governista foram similar nesse aspecto. A senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPI, disse que Lawand "está claramente isolado" e que "a base de Bolsonaro o abandonou".
O deputado Rogério Correia (PT-MG) chamou Lawand de "mentiroso". Da mesma forma, o deputado Aluisio Mendes (Republicanos-MA) declarou que a versão apresentada por ele de que as mensagens não se tratavam de golpe não é "possível de acreditar" e é "muito pouco crível".
Mentir na CPI na condição de testemunha pode resultar em prisão. O presidente da comissão, deputado Arthur Maia (União-BA), no entanto tem evitado a recorrer a detenção dos depoentes.
Os diálogos entre Lawand e Cid, que aconteceram em dezembro, a poucos dias do fim do mandato de Bolsonaro, contam com frases como "convença o 01 a salvar esse país", "o presidente vai ser preso" e "Cidão, pelo amor de Deus, cara. Ele dê a ordem, que o povo está com ele, cara". Após as mensagens virem à tona, o Exército afirmou que se tratam de "opiniões pessoais" que não representam o pensamento da Força. Por conta da repercussão do caso, Lawand deixou de ser enviado para a representação diplomática do Brasil nos Estados Unidos. O caso foi tornado público pela revista Veja no dia 15 de junho. Por decisão do Supremo Tribunal Federal, Lawand pode ficar em silêncio durante perguntas que o incriminem.