Copom ainda incomoda governo, que espera entrada de novos diretores para queda de juros em agosto
Em ata, maioria do BC diz que continuidade da queda da inflação pode permitir corte da Selic na próxima reunião
Embora publicamente ministros do governo venham afirmando que a Ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na manhã desta terça-feira, abre espaço para a queda dos juros em agosto, integrantes da equipe econômica ainda veem problemas no documento e acreditam que a entrada dos novos diretores do BC no próximo mês sacramente o corte na Taxa Selic.
Na Ata, o Copom explica a decisão, tomada na semana passada, de manter a taxa básica de juros a 13,75% ao ano. Para integrantes da Fazenda, a Ata seria tão dura quanto o comunicado (que é um texto menor, divulgado no dia da decisão sobre os juros), se não fosse por um parágrafo.
O item 19 da Ata expõe a divergência entre os integrantes do Comitê de Política Monetária sobre a queda dos juros. Mas diz que a avaliação predominante entre os membros do Copom foi de que a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, “pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão (corte dos juros) na próxima reunião”
O BC acrescentou, entretanto, que outro grupo, mais cauteloso, avalia ser “necessário observar maior reancoragem das expectativas longas e acumular mais evidências de desinflação nos componentes mais sensíveis ao ciclo”.
Para integrantes da Fazenda, essa divergência mostra que há membros do Copom dispostos a reduzir os juros e a chegada de dois novos diretores garante a maioria para isso.
O governo indicou para a diretoria de Política Monetária Gabriel Galípolo, ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda. Já para a Diretoria de Fiscalização, a indicação é de Ailton de Aquino Santos, servidor de carreira do Banco Central há 25 anos.
Os dois serão sabatinados pelo Senado no dia 4 de julho e devem ter seus nomes aprovados na mesma data. É tempo suficiente para que assumam seus cargos para a reunião dos dias 1º e 2 de agosto. É esperada uma queda de 0,25 ponto percentual na Selic.
Especialmente Galípolo terá um papel importante nesse processo porque ele, se aprovado, será o diretor da área que cuida diretamente da taxa de juros.
Com a nova composição, espera-se superar a visão de diretores do Banco Central que são apontados hoje com as vozes mais “cautelosas". Eles se manifestaram publicamente, nas últimas semanas, sobre os riscos de uma queda de juros, o que foi interpretado pelo governo como um recado indireto do presidente do BC, Roberto Campos Neto.
A Ata ainda incomodou porque, entre outros pontos, fala que ainda existe alguma incerteza “residual” sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional e seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco. Para o governo, o problema fiscal está "endereçado".
Também chamou a atenção dentro do governo o aumento da estimativa da taxa neutra de juros (que nem estimula nem desestimula a economia). O Copom optou por elevar a estimativa de taxa de juros real neutra de 4% para 4,5%. Para o governo, isso é um recado para bancos públicos e aponta para a possiblidade de o país conviver com juros mais altos. Instituições públicas podem direcionar o crédito e oferecer taxas subsidiadas. Essas taxas não são sensibilizadas pela Selic, de forma que o BC tem menos poder de fogo para controlar a inflação.
Outro ponto de crítica é a comunicação do BC, considerada difusa. Integrantes do governo avaliam que o Banco Central emite sinais divergentes na ata e no comunicado — sem contar as conversas privadas entre Campos Neto e Haddad.
Como mostrou o colunista do Globo Alvaro Gribel, não é a primeira vez este ano que o Banco Central divulga um comunicado duro, para voltar atrás na semana seguinte, por meio da Ata do Copom. Isso aconteceu também em fevereiro, quando o comunicado foi duro em relação ao arcabouço fiscal, mas depois reconheceu os esforços do governo, na semana seguinte, dizendo que o pacote poderia "atenuar" os estímulos sobre a demanda e ajudar no controle sobre a inflação.