Ex-ministros, intelectuais e cientistas pedem que Lula conceda asilo a Julian Assange, do WikiLeaks
Grupo pede que presidente promova "esforço internacional" em favor do jornalista australiano, acusado de vazar documentos das Forças Armadas americanas
Um grupo de intelectuais, cientistas e ex-ministros de Estado, sindicalistas e lideranças da sociedade civil redigiu uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para pedir que ele conceda, "da forma a mais ágil possível", asilo político ao jornalista australiano Julian Assange, fundador do WikiLeaks, atualmente preso no Reino Unido.
Assange é acusado do maior vazamento de documentos das Forças Armadas americanas. Em 2015, o WikiLeaks divulgou informações confidenciais da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, revelando que o governo americano espionava a então presidente Dilma Rousseff. Ao todo, 29 pessoas ligadas à gestão petista tiveram seus telefones grampeados.
Os signatários do manifesto ressaltam que, se for extraditado para os EUA, Assange pode ser condenado a até 175 anos de prisão "por relevar fatos verdadeiros a respeito daquele país". "Concretamente, propomos que Vossa Excelência promova um esforço internacional junto a outros países – a começar pelos do Brics e do G20 – com vistas a obter a aceitação deste asilo político por parte do governo inglês", afirma o documento, que lembra que presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador intercedeu por Assange junto ao governo americano no ano passado.
"O governo brasileiro o faria diretamente ao Reino Unido, apoiado por personalidades mundialmente reconhecidas como o Papa Francisco, o ator Leonardo Di Caprio, a cantora Anitta, o Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, o compositor e escritor Chico Buarque de Holanda, jornalistas ganhadores do Prêmio Pulitzer como Seymour Hersh e outros."
"Acreditamos que, independente do resultado, este esforço vigoroso em defesa de Assange contribuirá para marcar ainda mais a posição humanitária e progressista do governo brasileiro no mundo, como tem sido a nossa marca desde 1º de janeiro de 2023", continua o texto.
O manifesto é assinado por 2.897 pessoas. Entre elas, o filósofo e ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, o músico Jaques Morelenbaum, o neurocientista Sidarta Ribeiro, a ex-ministra da Cultura Ana de Hollanda e a deputaada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
No início do mês, Lula expressou preocupação diante da possibilidade de extradição de Assange para os EUA. "Vejo com preocupação a possibilidade iminente de extradição do jornalista Julian Assange. Assange fez um importante trabalho de denúncia de ações ilegítimas de um Estado contra outro. Sua prisão vai contra a defesa da democracia e da liberdade de imprensa. É importante que todos nos mobilizemos em sua defesa", escreveu o presidente em suas redes sociais.
Leia abaixo a carta na íntegra
Excelentíssimo Senhor Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Nós, abaixo assinados, cientistas, jornalistas, professores, sindicalistas, lideranças da sociedade civil e entidades, vimos solicitar, respeitosamente, seu apoio, providências legais e diplomáticas no sentido do Brasil conceder, da forma a mais ágil possível, asilo político ao jornalista Julian Assange, hoje preso no Reino Unido.
Diante dos fatos recentes envolvendo a extradição para os EUA – onde Assange poderá ser condenado a até 175 anos de prisão por revelar fatos verdadeiros a respeito daquele país – um conjunto de profissionais, lideranças da sociedade civil e entidades iniciaram um movimento via redes sociais visando construir uma saída humanitária para o caso, hoje acompanhado de perto por toda a comunidade internacional. Vale ressaltar que Assange ficou exilado na Embaixada do Equador em Londres por sete anos e depois de preso está há outros quatro numa penitenciária, totalizando 11 anos sem liberdade.
Concretamente, propomos que Vossa Excelência promova um esforço internacional junto a outros países – a começar pelos do Brics e do G20 – com vistas a obter a aceitação deste asilo político por parte do governo inglês. Na mesma linha da iniciativa do Presidente Obrador, do México, em 2022, que fez pedido semelhante ao governo estadunidense, o governo brasileiro o faria diretamente ao Reino Unido, apoiado por personalidades mundialmente reconhecidas como o Papa Francisco, o ator Leonardo Di Caprio, a cantora Anita, o Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, o compositor e escritor Chico Buarque de Holanda, jornalistas ganhadores do Prêmio Pulitzer como Seymour Hersh e outros.
Acreditamos que, independente do resultado, este esforço vigoroso em defesa de Assange contribuirá para marcar ainda mais a posição humanitária e progressista do governo brasileiro no mundo, como tem sido a nossa marca desde 1º de janeiro de 2023.
Certos de que a sensibilidade política, o senso de Justiça e o humanismo que sempre marcaram sua atuação irá influenciar na sua decisão em relação a assunto de tamanha gravidade, nos despedimos atenciosamente.