Após segunda noite de protestos na França, Macron diz que "a violência é injustificável"
Morte de um adolescente de 17 anos comoveu autoridades, políticos e famosos e gerou reação violenta em cidades pelo país
Os distúrbios noturnos após a morte de um adolescente baleado pela polícia prosseguiram durante a madrugada desta quinta-feira (29) na França, onde 150 pessoas foram detidas, uma "violência" que o presidente Emmanuel Macron chamou de "injustificável".
"As últimas horas foram marcadas por cenas de violência contra uma delegacia, mas também contra escolas, prefeitura e, portanto, contra as instituições da República (...) São injustificáveis", disse Macron no início de uma reunião de crise.
Na terça-feira , um policial matou com um tiro Nahel, de 17 anos, quando o adolescente se negou a obedecer as ordens de dois agentes durante uma operação de controle de trânsito em Nanterre, uma localidade ao oeste de Paris conhecida pelo bairro de negócios de La Défense.
A tensão é grande nos subúrbios da capital francesa: o governo mobilizou 2.000 agentes das forças de segurança durante a noite para tentar evitar novos distúrbios, mas os protestos também foram organizados em outras regiões como Lyon (leste), Toulouse (sudoeste) ou Lille (norte).
Além de carros e inclusive um ônibus em Grigny, ao sudeste de Paris, os manifestantes incendiaram escolas em várias cidades como Tourcoing (norte) ou Evreux, que fica 90 quilômetros ao oeste da capital, e várias delegacias.
"Estamos cansados deste tratamento. Isto é por Nahel, nós somos Nahel", gritaram os jovens, que enfrentaram a polícia em alguns momentos durante a noite no subúrbio nordeste de Paris.
O ministro do Interior, Gérald Darmanin, anunciou que 150 pessoas foram detidas durante a noite e denunciou "atos de violência insuportáveis contra símbolos da República". Ele também criticou as pessoas que não pediram calma.
A segunda noite de distúrbios aconteceu algumas horas antes de uma passeata em homenagem a Nahel convocada pela mãe do jovem e que deve acontecer diante da prefeitura de Nanterre, perto do local em que o adolescente morreu.
— É uma revolta por meu filho — declarou.
A recordação de 2005
A morte de Nahel provocou um grande movimento de indignação, de Macron ao astro do futebol francês Kylian Mbappé, e a retomada do debate recorrente sobre a violência policial no país. Treze pessoas morreram em circunstâncias similares em 2022.
E também provoca a recordação dos distúrbios de 2005 nos subúrbios das grandes cidades, depois que dois adolescentes morreram eletrocutados quando fugiam da polícia em Clichy-sous-Bois, ao noroeste de Paris.
O governo do então presidente conservador Jacques Chirac decretou estado de emergência, pela primeira vez na França metropolitana desde o fim da guerra de independência da Argélia. Os dois policiais acusados foram absolvidos em 2015.
O agente de 38 anos suspeito de ter atirado contra Nahel está sob custódia policial. Ele foi interrogado como parte de uma investigação aberta por homicídio doloso, segundo o Ministério Público.
Em um primeiro momento, fontes policiais afirmaram que um agente abriu fogo quando o motorista do veículo tentou avançar contra dois integrantes da força de segurança perto de uma estação de trem.
Porém, um vídeo publicado nas redes sociais, cuja autenticidade foi comprovada pela AFP, mostra o momento em que um agente aponta uma arma para o motorista e atira à queima-roupa quando ele acelera com o veículo. Na gravação é possível ouvir a frase: "Você vai levar um tiro na cabeça", mas não fica claro quem a pronuncia.